Prosimetron

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terça-feira, 21 de março de 2017

Torniquete

A tômbola anda depressa,
Nem sei quando irá parar -
Aonde, pouco me importa;
O importante é que pare...
- A minha vida não cessa
De ser sempre a mesma porta
Eternamente a abanar...

Abriu-se agora o salão
Onde há gente a conversar.
Entrei sem hesitação -
Somente o que se vai dar?
A meio da reunião,
Pela certa disparato,
Volvo a mim a todo o pano:

Às cambalhotas desato,
E salto sobre o piano...
- Vai ser bonita a função!
Esfrangalho as partituras,
Quebro toda a caqueirada,
Arrebento à gargalhada,
E fujo pelo saguão...

Meses depois, as gazetas
Darão críticas completas,
Indecentes e patetas,
Da minha última obra...
E eu - prà cama outra vez,
Curtindo febre e revés,
Tocado de Estrela e Cobra...

Mário de Sá-Carneiro


(Publicado há 100 anos no Portugal Futurista.)

1 comentário:

bea disse...

Um poema certeiro dos dias que também temos de tudo ao contrário e que são sempre o mesmo.