Prosimetron

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segunda-feira, 9 de junho de 2014

O que ando a ler: Zadig

Há momentos em que pegamos num livro, mas não é esse que apetece ler, daí recorrer à estante sem olhar para a pilha de leituras escolhidas. Comecei a ler um livro de Voltaire que tinha arrumado desde que o herdei. Surpreendeu-me pela positiva.
Anónimo, Pinturas de Arlanza : Grifo, Século XII
daqui, Museu Nacional de Arte da Catalunha
Arlanza Paintings: Griffin. Barcelona © National Art Museum of Catalonia (MNAC)

Zadig quis consolar-se com a filosofia e a amizade dos males que o fado lhe causara. Tinha, ele nos arrabaldes de Babilónia, uma casa decorada com gosto, onde reunia todas as artes e prazeres dignos de um homem de bem. Pela manhã a sua biblioteca estava aberta a todos os sábios; à tarde tinha mesa posta para todos os bons convivas, mas não tardou que verificasse quão perigosos são os sábios: travou-se grande disputa acerca de uma lei de Zoroastro que proibia que se comesse carne de grifo.
- Para que proibir que se coma carne de grifo - diziam uns - se esses animal não existe?
- Mas tem de existir - diziam outrs -, visto Zoroastro não querer que o comam.
Zadig quis harmonizá-los dizendo-lhes:
- Se existem grifos, não comamos da sua carne; se não existem, ainda com mais forte razão não o devemos fazer, e assim obedeceremos todos a Zoroastro.

Voltaire, Zadig ou o Destino. Lisboa: Editorial Verbo, Livros RTP, ( tradução de João Gaspar Simões) 1972, p. 21.

2 comentários:

Margarida Elias disse...

Gostei bastante.

ana disse...

Margarida,
Estou a gostar muito. Já tenho este livro há tanto tempo e só agora é que olhei para ele.
Boa noite e bom feriado!:))