Prosimetron

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sábado, 11 de dezembro de 2010

Ainda ( e sempre? ) o Políptico das Janelas Verdes-2

Manoel de Oliveira, que faz hoje 102 anos, apresentou ontem em Portugal pela primeira vez a sua curta-metragem, Painéis de São Vicente de Fora-Visão Poética, encomendada em 2009 pela Fundação de Serralves para comemorar o seu 20º aniversário.
Estou com vontade de ver estes 16 minutos à volta da mais célebre pintura portuguesa. Aqui fica um "cheirinho":

Um quadro por dia - 117

Alessandro Allori (1535-1607), O banquete de Cléopatra, 1570, óleo sobre tela, Palazzo Vecchio, Florença.


Esta obra do maneirista e ex-aluno de Bronzino, Alessandro Allori, o último grande pintor florentino como dizem os manuais, é menos conhecida do que a tela homónima que Tiepolo pintou uns séculos depois, daí ter optado por ela neste dia em que também tenho um banquete, que espero seja menos exótico do que os da famosa rainha do Egipto...

Perturbadora!

A pintura de Bartolomé Esteban Murillo, pintor sevilhano, The Infant Christ Asleep on the Cross, apesar de ser perturbadora encontrei nela beleza. Nascer e morrer, o ciclo da vida...

Bartolomé Esteban Murillo (1617 - 1682), The Infant Christ Asleep on the Cross, (1670)



Sheffield Galleries and Museums Trust, UK / Photo © Museums Sheffield
"This painting depicts the child Christ asleep on the cross with a skull lying beside him. Both these symbols directly refer to his forthcoming sacrifice and are intended to emphasise the notion that Christ was born in order to die for the world. The two angels hovering above him invite the viewer to contemplate Christ's Passion.

This was a very popular subject for Spanish paintings during the second half of the seventeenth century. This work was probably produced for private devotion. "

Vídeos históricos - 11

Nat King Cole no inesquecível "Mona Lisa"

Livros de cozinha - 38


Porto: Livr. Tavares Martins, 1962

O autor deste livro - o melhor receituário da cozinha portuguesa - assina M.A.M., mas é, segundo José Quitério, possivelmente, um pseudónimo colectivo de Maria Adelina Monteiro Grilo e de Margarida Futsher Pereira.
Há anos que andava atrás dele, e finalmente, há cerca de dois meses, consegui comprá-lo na net. É dele
(p. 268-269) esta receita de

PERU RECHEADO

Peru - 1
Limões - 2
Água - q.b.
Sal - q.b.Banha - 250 g
Vinho branco - 1 copo
Colorau - q.b.
Cebolas - 2
Dentes de alho - 3
Sal - q.b.
Pimenta - q.b.

Amanha-se o peru sem o cortar no peito, deixa-se em água com sale rodelas de limão de um dia para o outro. No dia seguinte tapa-se a passagem do papo para a parte de trás com uma batata crua ao tamanho da abertura. Recheia-se então o papo com recheio de carne e a parte de trás com recheio de castanhas ou cogumelos. Cosem-se as aberturas com uma agulha e linha. Unta-se o peru com uma massa preparada com a banha, a cebola e o alho picados, sal, pimenta, colorau e metade do vinho. Assa-se no forno regando de vez em quando com o resto do vinho, tendo o cuidado e o cobrir com umas folhas de couve ou um appel engordurado para não alourar de mais. O molho passa-se depois pelo passador e serve-se na molheira.

Recheio de carnes (feito com as carnes em cru)
Carne de porco - 250 g
Carne de vitela ou carneiro - 250 g
Carne de vaca - 250 g
Fígado e moela de peru - q.b.
Pãp ralado - q.b.
Ovos - 3ou 4
Banha - q.b.
Manteiga - q.b.
Sal - q.b.
Pimenta - q.b.
Noz-moscada - q.b.
Passam-se as carnes pela máquina, juntamente com o fígado e a moela do peru. Amassa-se depois com a mão, retirando todos os nervos que se encontrem. Juntam-se-lhe os 3 ovos, um pouco de banha, manteiga, sal, pimenta a gosto, um pouco de noz-moscada e 1 ou 2 mãos-cheias de pão ralado para enxugar um pouco o recheio.
Amassa-se tudo muito bem e recheia-se o peru.

Recheio de castanhas
Castanhas - 2 kg
Caldo de carne - 1/2 dl
Manteiga - 50 g
Ovo - 1
Sal - q.b.
Pimenta - q.b.
Leite ou natas - q.b.
Golpeiam-se as cascas das castanhas e editam-se numa panela com água a ferver, deixando cozer 13 minutos. Limpam-se das cascas e das peles e levam-se de novo ao lume com o caldo de carne, deixando ferver até as castanhas estarem tenras. Passam-se então por um passador fino, junta-se-lhe a manteiga, o ovo inteiro batido e tempera-se de sal e pimenta. Se o puré estiver muito rijo junta-se-lhe um pouco de natas ou leite.
Recheia-se depois o peru.

Musset - duzentos anos


Nasceu há exactamente duzentos anos, em Paris, o poeta romântico Alfred de Musset, de quem se disse ser "o mais clássico dos românticos e o mais romântico dos clássicos". Foi também dramaturgo e novelista. Tem uma vasta obra, sobretudo em poesia e teatro. Morreu em 2 de Maio de 1857, quase esquecido, apesar de ter alcançado a Académie Française em 1852 e de ter recebido a Légion d'Honneur, em 1845, devido a uma doença cardíaca congénita e à vida boémia e desregrada que levou. É conhecido o seu relacionamento amoroso com George Sand, cujo final motivou uma troca de recriminações em livro, de parte a parte. Por intervenção do seu irmão Paul, que reeditou grande parte da sua produção poética, está enterrado no cemitério Pére Lachaise.

Do seu livro "Les Nuits", um diálogo entre o Poeta e a Musa, a fala do poeta na "Nuit de Mai":

Le Poéte

Porquoi mon coeur bat-il si vite?
Qu'ai-je donc moi qui s'agite
Dont je me sens épouvanté?
Ne frappe-t-on à ma porte?
Porquoi ma lampe à demi morte
M'ébloui -elle de clarté?
Dieu puissant! tout mon corps frissonne.
Qui vient? qui m'appelle? - Personne.
Je suis seul;c'ést l'heure qui sonne;
O solitude! ô pauvreté!

Deux chanteuses

Montauban ; musée Ingres

Este quadro é hoje atribuído a Rutilio MANETTI (1571-1631/9). Outros querem que seja de Trophime Bigot (1579-c.1650), mas já foi atribuído a VALENTIN e a HONTHORST.
Toda a vida é composta por contrastes. Hoje temos umas coisas... amanhã teremos outras... ontem tivemos outras. Mas nunca estamos satisfeitos e quase nunca damos valor ao que realmente temos.
O que se foi e o que se é (beleza); o que não se teve e o que se tem (técnica).

Vamos jogar!

A vinheta de hoje é um pormenor de uma tapeçaria do século XVI, provavelmente alemã. Escolhemos um pouco do campo de flores com um povoado como fundo.
A cena principal é um jogo. Dois guerreiros tentam cortar, com a espada, bolas de lã (?) sobre um tambor... sem o estragar. Como seriam as regras do jogo? não conseguimos descobrir.

Dimensões: 265x307 cm
Esta tapeçaria encontra-se para venda no Antiquário Armand Deroyan, 13 rue Drouot, Paris (França).

O meu primeiro livro de arte


Na capa: pormenor de Criança com papagaio, de M. J. Mierevelt (1567-1641).

E como o prometido é devido, aqui fica a capa do primeiro livro de arte que tive. Uma oferta natalícia de um alfarrabista. Era eu pequena, muito pequena.
Dentro, reproduções a preto e branco de várias pinturas em que a criança é o tema. Para além de umas muito conhecidas, outras menos, com estas:

Baroccio (1528-1612) - Retrato de Frederico de Urbino, 1605
Florença, Palácio Pitti


Joshua Reynolds (1723-1792) - Princesa Sophia Matilda de Gloucester, 1774
Castelo de Windsor

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Um quadro por dia - 116

Neste Dia Internacional dos Direitos Humanos, em que muitas cadeiras ficaram vazias em Oslo para a entrega do Nobel da Paz, desde logo a do laureado, é oportuno lembrar esta tela chamada precisamente Liberdade de expressão, pintada em 1968 por Adolpho Mexiac e inspirada pelo massacre dos estudantes ocorrido nesse ano na Cidade do México.

Números - 34


300


É o número de cursos universitários e politécnicos encerrados este ano, por decisão da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior fundada na falta de qualidade dos docentes ou no reduzido número de alunos inscritos.
Foi um dos grandes erros de governos sucessivos: permitir a massificação do ensino universitário e politécnico ( por vezes, até em sedes de concelhos! ) sem um rigoroso acompanhamento.
E como se explica agora às famílias que andaram a suportar as despesas e aos alunos que os frequentavam?

Um tique...

É tão chato quando nos apanham os tiques... A menos que seja algum sinal maçónico, dos Illuminati, da Trilateral ou do Clube de Bilderberg...

A força da natureza...

Ontem quando me dirigi ao castelo dos Templários para visitar o Convento de Cristo deparei-me com a porta fechada e com a informação: "Fechado por razões de segurança".
Desejo que este monumento não tenha ficado danificado. O castelo e o convento são um local de contemplação.
xx
Castelo dos Templários, Tomar

Novas excentricidades




Mais duas criações. A primeira pode ser uma ameaça, cuidado. Se por acaso avistarem aquele modelito nos pés de alguém, por aí, não ousem comentar nada, senão ainda levam com uma fisgada!

Sem comentários...

- Foto "surripiada" ao Corta-Fitas.

1988 : Cliff Richard

A 10 de Dezembro de 1988, esta Mistletoe And Wine chegava ao primeiro lugar do top britânico, coisa que já não acontecia a Sir Cliff há uma década, e acabou por ser o single mais vendido desse ano.

Poemas - 21

- Mesquita de Córdova.

[ a Wallâda de Córdova]

Por Deus, da minha vida tira

um dia e deixa-me uma hora,

para conseguir em penhor

o que não consegui por favor.



- Ibn Zaidún de Córdova , in Ítaca nº2, Outubro de 2010. ( Tradução feita directamente do árabe por André Simões, com a revisão de Nadia Bentahar )


Nota do tradutor: Ibn Zaidún (1003-1060), é um dos mais importantes autores do al-Ândalus. A sua notoriedade está inevitavelmente ligada às suas relações com Wallâda bint al-Mustafki, filha do Califa Muammad III al-Mustafki (Califa entre 1024-1025), a quem dedicou alguns dos mais belos poemas da literatura árabe andalusa.

O que estou a ler - 1. b)


(...) Consta que Gilbert Lely, o poeta e especialista em Sade, mantinha em sua casa exactamente 100 obras, nem mais nem menos, e sempre que acrescentava uma, retirava logo outra. Georges Perec cita o caso de um amigo seu que chegou, por um cálculo tão oulipiano como incompreensível, ao número ideal de 361, embora não se tenha decidido quanto ao modo de contabilizar os trabalhos em vários volumes ou as obras completas-da Pléiade, por exemplo-que estão divididas em vários tomos.


- Jacques Bonnet
, bibliotecas cheias de fantasmas, p.18.


O problema é que 361 ainda é um número que me parece tão pequeno...

Ainda o Michael


Ontem, a propósito de Earth Song, escrevi sobre Michael Jackson e a sua filantropia, lamentando que esta tivesse ficado muitas vezes esquecida face às operações plásticas, os filhos, os problemas judiciais etc. Verifiquei hoje que fui blasfemo, tendo ofendido profundamente, pelos vistos, a Sra.D.Bruna que se falar como escreve deve ser um suplício ouvi-la.
Acontecimento que só confirma o que se diz há muito: por vezes, piores que os artistas excêntricos ( sendo as excentricidades verdadeiras ou de marketing ) são os fãs tresloucados.
Sobre a imagem supra, esclareço que é de David La Chapelle e foi capa de uma Photo que comprei na altura e tinha ficado esquecida até hoje- agradeço à Sra.D.Bruna que foi o catalisador para a postagem.

"Notas soltas" sobre o Advento - 3


Viena, 1945

Neste Natal, havia 900 calorias de comida por cabeça em Viena. Cada lar podia dispor de apenas uma lâmpada de 25 Watt. O primeiro chefe de governo austríaco do pós-guerra, o chanceler Leopold Figl, era um estadista que, ao beber vinho da sua cidade natal Rust am Neusiedlersee, reconhecia imediatamente através de um só gole, de que encosta provinha a gota, se da encosta sul ou da encosta poente. Quando se encontrava embriagado, o que acontecia com frequência, saltava para uma mesa e deixava-se cair nos braços dos seus adeptos fiéis, preparados para o acolher. Costumava gritar: “Aqui têm, o vosso chanceler bêbedo!”
Figl, patriota incontornável em tempos dificílimos, saído de um campo de concentração hitleriano para ocupar o lugar de chanceler, proferiu o seguinte por ocasião do Natal de 1945: “Não tenho nada para vos oferecer no Natal. Não tenho velas para vos oferecer para a vossa árvore, se é que têm uma... Não tenho presentes para dar. Nem um pouco de pão, nem carvão para aquecer, nem um copo para oferecer uma bebida – não temos nada. Apenas posso pedir-vos: acreditai nesta nova Áustria!



Tradução (não literal) de um texto da autoria de Günther Nenning, extraído do livro "O milagre da improvisão - Natal nos anos 40" de Michael Skasa

Sabia que...? - 1



Picles naturais
«A choucroute é provavelmente a preparação rainha entre as lactofermentações de legumes. Os picles naturais (entre os quais a choucroute se inclui) compreendem na sua composição legumes, sal e eventualmente água, mas não vinagre. A lactofermentação conserva ou aumenta o teor de vitaminas do alimento. Durante a fermentação dá-se a produção de fermentos lácticos. Em pequenas quantidades ao fim da refeição ajudam a boa digestão. O seu consumo regular ajuda e restaura a qualidade da flora intestinal. Estimula o apetite, favorecem a lactação e são em geral considerados factores de vitalidade, boa saúde e longevidade.
Usos mais comuns: intestinos; melhora a digestão.»
Carlos Campos Ventura - O pequeno livro dos alimentos saudáveis. 1.ª ed. Lisboa: Gradiva, 2004, p. 53

Já há muito tempo que estava para falar deste pequeno livro, muito interessante. Cada página é dedicada a um tema (algas, arroz, aveia, azeite, geleia real, grão-de-bico, lentilhas, sal, propolis, etc.), tratado como acima pode ver. Com a sua leitura, aprendi umas coisas.

Palácio da Flor da Murta

Depois de ter visitado o ARPOSE, e como já vem sendo hábito.


Foto entre 1898 e 1908
Arq. Fot. CML, PT/AMLSB/AF/FAN/001746


Foto de Horácio Novais, 194-
Arq. Fot. CML, PT/AMLSB/AF/HNV/S00082


Foto de Armando Serôdio, 1958
Arq. Fot. CML, PT/AMLSB/AF/SER/I00254

O Palácio da Flor da Murta está situado na R. Poço dos Negros, esquina com a Rua de S. Bento. Não tenho passado por lá, mas há tempos estava em obras.
Vejamos o que dele nos diz Norberto de Araújo, nas Peregrinações em Lisboa (Lisboa: Vega, 1993, t. 11, p. 41-42):
«Estas "casas nobres" do Poço dos Negros estavam integradas no meado do século XVII nos bens do Morgado da Terrugem, só instituído formalmente em 1681 por Pedro Jacques de Magalhães, 1.º Visconde da Fonte Arcada (1871) [...]. Uma filha do segundo casamento daquele fidalgo, D. Ana Madalena de Vilhena, casou com D. António de Menezes de Soto Mayor, Morgado de Sousa, da casa Cantanhede, e foi deste modo que o palácio do poço dos Negros e S. Bento passou para os Meneses.
«Um D. Jorge de Meneses, desta estirpe, [...] casou com D. Luísa Clara de Portugal, uma Castelo Melhor por seu pai, D. Bernardo de Vasconcelos. Foi esta dona, que era linda, uma das favoritas de D. João V, o mais velho dos quais, D. António, no qual se continuou o vínculo e nele o Palácio do Poço dos Negros.
O penúltimo proprietário da Casa da Flor da Murta foi D. Manuel Maria de Meneses, falecido em 21 de Agosto de 1909; dele herdou a propriedade D. António de Meneses, actual senhor do imóvel*.
[...]
«Tenho razões para crer que "Flor da Murta" é designação anterior aos amores de D. Luísa Clara com o "Magnânimo", pois existia já em seiscentos um Morgado da Flor da Murta. O romance apenas deu aura ao perdido título. [...] De 1890 até 1920 toda a moradia, outrora nobre, esteve ocupada pelo estabelecimento de máquinas Street & C.ª.
«Os jardins da Flor da Murta desapareceram, e no seu lugar se construiu, há poucos anos, um barracão, que encosta à Rua Fresca, e é hoje garagem; um corredor ou pátio interior mostra ainda na parede do palácio azulejos setecentistas, com figuras recortadas, que acompanhavam os lances da escadaria que subia dos jardins ao interior do solar seiscentista, e nas salas vêem-se azulejos dos séculos XVII e XVIII, e um tecto com boa pintura que representa... Vénus e Cupido.
«A Capela, que teve invocação de N. Sr.ª do Monserrate, há algumas dezenas de anos que não tem culto, e está nua de alfaias e adornos desde 1914; ali tens o seu pórtico quase à esquina da Rua Fresca.
«Interiormente o Palácio da Flor da Murta é sonâmbulo, habitando nele vários inquilinos, e, apenas numa parte, o seu proprietário; por fora é, como notas, uma pálida invocação seiscentista.»

* A 1.ª ed. das Peregrinações é de 1938-1939.

Amanhã...


quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Um quadro por dia - 115

Gaspard Poussin, Paisagem com relâmpago, 1660's, óleo sobre tela, Hermitage, São Petersburgo, Rússia.


Há escassos minutos, vi vários relâmpagos através da janela do escritório. Mas antes relâmpagos que tornados...

O que estou a ler - 1. a)

[ Retrato do compositor Charles-Valentin Alkan(1813-1888) ] (...) Durante o jantar, dissertámos sobre a felicidade e maldição a que estamos condenados: os livros são caros no acto da compra, não valem nada na revenda, assumem preços incomportáveis depois de esgotarem, são pesados, acumulam pó, sofrem com a humidade e os ratos, a partir de uma certa quantidade tornam-se quase impossíveis de transportar de uma casa para a outra, necessitam de uma classificação precisa para poderem ser utilizados e, sobretudo, devoram o espaço. (...) Até hoje, apenas a parede do quarto em que está encostada a cama é que permaneceu sempre livre, por razões que se prendem com um trauma antigo: a descoberta, há muito tempo, das circunstâncias da morte do compositor Charles-Valentin Alkan, a quem chamavam o "Berlioz do piano", morto em sua casa, a 30 de Março de 1888, esmagado pela própria biblioteca! Se cada corporação tem o seu santo mártir, Alkan, o pianista virtuoso que Liszt admirava e que herdou os alunos de Chopin quando este morreu, é certamente o santo mártir dos fanáticos por bibliotecas.
(...)

- Jacques Bonnet, in bibliotecas cheias de fantasmas, p.16-17. ( Sobre este livro, vd Aquisições recentes-17 )

Aspectos do Rio de Janeiro histórico -1



Pesquisa e Vídeo: Cau Barata

Ainda ( e sempre? ) o Políptico das Janelas Verdes

Este post chega atrasado, pois que se refere à Visão da semana passada. Cortei então o pedaço de texto que me interessava, mas o mesmo ficou esquecido dentro do "caderno do blogue".
É um pedaço de texto da pena da jornalista Cláudia Almeida, que ao escrever sobre a exposição Primitivos Portugueses termina o seu artigo assim:

Investigações mais recentes indicam que a obra não representa São Vicente mas o funeral simbólico de Dom Henrique, o Infante Santo.

Bem sei que infantes há muitos, que já não há revisores de texto em lado nenhum, e que os jornalistas não são historiadores. Mas ainda assim, fica mal à Visão, que tenho como a melhor revista generalista portuguesa e de que sou assinante há uma década, trocar o Fernando pelo Henrique. Imagino que muitas boas almas achem que não tem importância nenhuma,que foi um lapso menor, mas como costuma dizer um querido amigo que também escreve nestas páginas, é não verificando as fontes (ou a nossa memória, acrescento eu ) que o erro se perpetua.
E escrever numa revista não é o mesmo que publicar umas coisas num blogue, sem desprimor para os blogues obviamente.

Os santos inocentes

Esta Universal Child é um inédito de Annie Lennox e faz parte do álbum Christmas Cornucopia, um disco de canções de Natal que ela lançou recentemente.



Acordo ortográfico


Alberto Caeiro [Fernando Pessoa] - Página manuscrita de O guardador de rebanhos, post. Maio 1914
Lisboa, BNP Esp. E3/145


José Saramago - Manuscrito de caderno de apontamentos para Memorial do Convento, 1982
Arquivo-Fundação José Saramago
Medeia a escrita destes dois manuscritos a publicação de legislação, introduzindo alterações ortográficas, em 1931, 1945 e 1973.

«O Governo aprovou hoje uma resolução que determina a aplicação do acordo ortográfico da língua portuguesa no sistema educativo no ano lectivo de 2011/2012 e na administração pública a partir de 1 Janeiro de 2012.» (DN on line, 9 Dez. 2010)
E nós aqui no blogue?

Ainda Francisco Sá Carneiro


O nosso povo tem sempre correspondido, nas alturas de crise. As elites, as chamadas elites, é que sempre o traíram.
- Francisco Sá Carneiro, 2 de Abril de 1978.
No meio da cacofonia mediática à volta dos 30 anos passados sobre Camarate, deparei-me com esta frase de Sá Carneiro que dá que pensar. As elites hoje são outras, mas o fundo da questão...

O chá das cinco - 14


Léon de Smet (1881-1966) - Rapariga à mesa
Óleo sobre tela, 1921
Col. particular

Actriz de um só filme


Refiro-me a Fernanda Matos, a Teresinha de "Aniki Bobó". Na época, em 1942, era uma miúda de 12 anos quando participou na primeira longa-metragem de Manoel de Oliveira, uma "experiência agradável" como a própria afirma, 68 depois da estreia do filme. Fernanda Matos nunca quis ser actriz, tendo preferido seguir a norma das mulheres do seu tempo: ser dona-de-casa, mãe e avó. Já casada, a passear os filhos pequenos na Baixa do Porto, as pessoas paravam para ver a menina que fez perder a cabeça de dois garotos da Ribeira. Um comerciante da Rua dos Clérigos, lembra Fernanda, não conteve a admiração. Veio à porta da loja e disse: "A Aniki Bobó já tem bobozinhos!". Os seus quatro filhos e sete netos já viram várias vezes Teresinha. Todos gostam do filme e orgulham-se do desempenho da mãe e avó, mas nenhum até ao momento quis ser actor. Ontem, uma nova versão do filme, restaurada e remasterizada, foi exibida nas salas de cinema em vésperas do 102º aniversário do seu realizador, no próximo dia 11.

Acabei de ler


Tal como muita gente, sou admirador do realizador e produtor Guillermo del Toro ( do Labirinto do Fauno, por ex. ) pelo que o ano passado decidi ler The Strain/A Estirpe, sua primeira obra literária escrita a meias com Chuck Hogan, nome firmado da literatura de terror. E fiquei convencido de que tinha surgido uma dupla de peso e uma nova mitologia vampírica que era de seguir.
Ontem, li compulsivamente o segundo volume da trilogia, The Fall, e mantém-se o interesse. Este segundo volume até já está traduzido para a nossa língua ( continuo a espantar-me com a velocidade das traduções e edições dos bestsellers ) com o nome de Ocaso e vai ser de certeza um sucesso de vendas tão grande como A Estirpe.
Atenção, esta é uma saga vampírica para adultos, nada de vampiros adolescentes e para adolescentes que é o que tem dominado o mercado ad nauseam nos últimos anos. Aqui cruza-se a ciência com a história da Segunda Guerra Mundial, os livros e culturas antigas com a vida contemporânea e há uma nova perspectiva sobre a origem dessas fascinantes criaturas da noite que só bebem...sangue.
E há sempre a esperança que o Del Toro converta estes tomos em filmes, já que a narrativa é fantasticamente cinematográfica.

Na Biblioteca Nacional

Últimos dias para aproveitar preços mais aprazíveis das edições da Biblioteca Nacional de Portugal, e já agora visitar as exposições patentes.

«Que livros na Escola?»


Caçadas de Pedrinho
é uma obra de Monteiro Lobato (1882-1948), escrita em 1933.
Nunca li este livro, logo socorro-me da Wikipédia para saber algo da sua história: «O livro relata uma descoberta do Marquês de Rabicó: uma onça anda rondando as proximidades do Sítio do Picapau Amarelo. Pedrinho e Narizinho decidem, então, organizar uma expedição para caçar a fera, mas sem avisar Dona Benta ou Tia Nastácia, que com certeza se oporiam à aventura. Durante a caçada, eles encontram Quindim, um rinoceronte falante, e decidem trazê-lo para morar no sítio.»
E porque fiquei com vontade de ler o livro? José Carlos de Vasconcelos, no editorial do JL (1 Dez. 2010, p. 3), escreve sobre uma polémica acesa no Brasil depois da Câmara da Educação Básica do Conselho Nacional de Educação daquele país ter emitido um parecer, pelo qual deveria deixar de ser usado nas escolas como livro de texto este Caçadas de Pedrinho. E porquê? Por ter um cunho «racista», «por isso não devendo ser uma daquelas obras que o Estado compra às centenas de milhar, senão milhões, para as escolas. Cunho racista por 'pecados' tão graves como uma personagem dizer que só toma leite para não ficar preta ou outra (Emília) dizer, a certa altura, "... parecem-me muito grosseiras e até bárbaras - coisa mesmo de negra beiçuda, como Tia Nastácia".»
«Claro que o 'caso' teve enorme repercussão, porque Monteiro Lobato é dos mais lidos e populares escritores brasileiros, mesmo o mais, para os leitores "mirins", sendo a sua série O Sítio do Pica-pau Amarelo, em que aquele título se integra, famosíssima, até porque teve diversas adaptações televisivas, a última da Globo, entre 1977 e 1986, que também passou em Portugal.»
O editorial refere também que o Ministro da Educação do Brasil não homologou o parecer, tendo-o devolvido para nova apreciação, o que vai ter lugar este mês.
Entretanto, andei pela net e transcrevo de um blogue: «Um dos trechos da obra que sustenta a argumentação do CNE diz: "Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou, que nem uma macaca de carvão". Outro diz: "Não é a toa que macacos se parecem tanto com os homens. Só dizem bobagens." De acordo com Nilma Lino Gomes, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e autora do parecer, o livro deve ser banido das escolas ou só poderá ser adoptado caso a obra seja acompanhada de nota sobre os "estudos actuais e críticos que discutam a presença de estereótipos raciais na literatura".» (http://periscopio.bligoo.com.br/content/view/1085037/Censura-do-MEC-As-Ca-adas-de-Pedrinho.html)
E para que servem os professores nas aulas? Não é para introduzirem e contextualizarem os textos ou livros que os seus alunos lêem? É mais fácil censurar do que explicar.
Nós, por cá, também conhecemos este estilo, sob várias nuances. Um exemplo: durante um ou dois anos, Os Lusíadas também foi banido do ensino. Já não me lembro por que razão.

1995 : Michael Jackson

Faz hoje 15 anos que esta Earth Song começava a dominar os tops de vendas, tornando-se sucesso mundial desde logo pela mensagem ecológica. Pena que as excentricidades e outros alegados comportamentos do falecido Michael Jackson tenham obscurecido tudo o que de bom fez. Mas a verdade é que, por exemplo, foi ele quem escreveu We Are The World que angariou milhões como todos se devem lembrar.


EXCENTRICIDADES


A nossa MR que me desculpe por estar a usurpar-lhe a rubrica. Mas é que acabo de receber um mail com uma fabulosa colecção de sapatos, que vou mostrando aos poucos. São muitos e até com as mais variadas utilidades além da sua principal função! Já repararam que este par acima, por exemplo, pode servir para uma ida ao supermercado?

Citações - 142

Estou a ler este Brevíssimo Inventário, o mais recente volume do Marcello Duarte Mathias, que recolhe notáveis aforismos do autor e tem ainda outros textos curtos; e o que o nosso Jad escreveu infra sobre a omnipotência/omnipresença da língua inglesa e consequente subalternização da nossa leva-me a escolher este:

No fundo emigrantes somos todos nós. Porque o drama português é também este: fomos em tempos alguém sem perceber hoje como o fomos, e hoje o que somos não queremos ser.

Concertos de Natal


Estão de volta os Concertos de Natal nas igrejas de Lisboa, organizados pela CML. Ainda pode assistir aos seguintes:

IGREJA DA MADALENA
Ensemble Peregrinação – Escola de Música do Conservatório Nacional
10 Dez., 21h30


IGREJA DA MEMÓRIA
Grupo Coral do CEMM – Centro de Estudos Musicais da Maia
Marta Oliveira, piano
11 Dez., 16h00


IGREJA DA GRAÇA
Coro Regina Coeli & Orquestra Filarmonia das Beiras
12 Dez., 16h00


BASÍLICA DA ESTRELA
Orquestra Sinfónica Juvenil
17 Dez., 21h30


IGREJA DE SANTO AGOSTINHO
R. Direita de Marvila, 9-A
Companhia de Ópera do Castelo
18 Dez., 16h00


IGREJA DE SÃO DOMINGOS
Orquestra de Câmara Portuguesa
19 Dez., 16h00


Mais informações: www.egeac.pt

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Vídeos históricos - 10

No 30º aniversário do seu assassinato, John Lennon canta "Imagine"

Gândavo às voltas no túmulo

A língua como instrumento de soberania

Gândavo, para aqueles que não o conhecem foi um escritor português amigo de Luís de Camões que o honrou com tercetos e um soneto, que o autor colocou como introdução ao seu segundo livro publicado. E não é demais salientar que esses tercetos e esse soneto é a única lírica de Camões impressa durante a sua vida, dado que as Rimas são, já, uma obra póstuma.
Gândavo, de seu nome Pêro de Magalhães de Gândavo (Gândavo era a alcunha que recebeu por a sua família ter origem em Gand, na Flandres do século XV), imprimiu dois livros importantes: o primeiro, Regras que ensinam a maneira de escreuer e orthographia da lingua Portuguesa, com hum Dialogo que a diante se segue em defensam da mesma lingua, foi impresso em Lisboa, na oficina de António Gonçalves, em 1574; o segundo Historia da Prouincia sancta Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil, igualmente impressa em Lisboa, pelo mesmo impressor, em 1576.
As Regras que ensinam a maneira de escreuer e orthographia da lingua Portuguesa, em especial o Dialogo que as acompanha são um verdadeiro monumento em defesa da língua portuguesa contra o bilinguismo que a corte de Portugal, desde o século XV, com os sucessivos casamentos dos Reis de Portugal nos outros reinos da Hispânia, usava e praticava. É Gândavo o primeiro a usar a língua Portuguesa como um instrumento de Soberania. A falta que nos faz hoje um Gândavo, dado que agora é moda (imposta) de todos os relatórios das actividades das Universidades e dos Centros de Investigação Portugueses serem entregues em Inglês no Ministério e na Fundação para a Ciência e a Tecnologia em Portugal.
A Historia da Prouincia sancta Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil é apenas a primeira história do Brasil, donde se pode incutir da sua importância.

Mas toda esta minha longa introdução vem a propósito de um livro publicado no século XXI (2009) que acabo de conhecer. Tem como título Pero de Magalhães de Gândavo, autor da primeira obra sobre a ortografia da língua portuguesa e da primeira história do Brasil, foi escrito por Guilherme Gomes da Silveira d'Avila Lins e publicado no Recife, pela Editora Universitária da Universidade Federal de Pernambuco. É que, embora se esteja no século XXI e o autor trate de um dos grandes gramáticos e ortografista português, o dr. Guilherme d'Avila Lins desconhece em absoluto o ductos (i.e. o desenho) das letras com que então se imprimia em Portugal. É rara a folha do seu livro em que não existam erros na fixação do texto de Gândavo ou de outros autores. Nem mesmo quando clama desculpa para as suas falhas, como acontece na pag. 7, em que copia o prólogo da obra de Gândavo.

Emérico Nunes e a publicidade - 2

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Ilustração, Lisboa, 1928


Civilização, Lisboa, 1929

The Pregnant Virgin

Uma das pinturas que mais me tocou na Galeria Nacional Húngara não só pela beleza mas pela simbologia.
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The Pregnant Virgin, c. 1410

Tempera on larch-wood, 89 x 78 cm, Hungarian National Gallery, From the Batthyány Collection of Németújvár

"(...) Originally it had belonged to a larger altarpiece of de Virgin with several other scenes, and, it had been of horizontal format, but it was truncated on the left. Earlier, the iconography of the picture was determined as a fragment of " the doubts of Joseph", but further refining of this definition became possible when an infrated photograph was taken of the painting in 1993. The photo shows the little Jesus with a cross in double mandorla under the drapery covering the Virgin's belly. This figure was originally painted on the Virgin's gown in accord with the underdrawing, but it was painted over in the baroque age. In reply to "the doubts of Joseph", this type of the Annunciation is connected to the cult of the Pregnant Virgin spreading from the late 14th century and leading to the evolution of a separate devotion picture type. The flowers in the foreground, the washbasin, towel and cauldron on the left are symbols of Mary frequently adopted in German and austrian painting under the influence of Netherlandish art."

Hungarion National Gallery Guide, p. 19

Uma formiga de dezoito metros...


«Une fourmi», poema de Robert Desnos.

Os três irmãos Manet


Degas - Eugène Manet
Óleo sobre tela, 1874

«S'il peint comme Édouard, Eugène partage avec son cadet, Gustave, la passion de la politique. Les trois frères sont républicains - anticléricaux et antibonapartistes. Mais seul Gustave Manet, né en 1835, rêve d'une place à la tribune, d'un rôle dans la cité. Camarade d'Arthur Ranc, député de Paris - l'un des six députés à avoir voté contre la cession de l'Alsace et de la Lorraine à l'Allemagne -, et d'Eugène Spuller [...], tous deux collaborateurs du jornal La République française - fondé ei dirigé para Gambetta -, il fréquente la gauche rpublicaine avec ardeur et conviction, et les milieux maçonniques. Également lié à Georges Clemenceau auquel il a succédé brièvement comme maire de Montmartre, Gustave a la trempe d'un militant. Eugène, qui aime assez débattre de politique, manque à la foid de la fougue nécessaire au combat et du sang-froid qui donne du poids dans els discussions. C'est un homme effacé mais qui prend vite ombrage.
«Des trois frères, qui s'aiment et entretiennent les meilleurs rapports, il est donc le moins fort caractère. Édouard et Gustave ont chacun une vocation,et les moyens de la réaliser: ils ont de l'ambition et de la volonté, en plus de leurs dons personnels. [...] En 1889, peu avant sa mort, Eugène signera un roman [Victimes!] dont la teneur autobiographique ne trompe pas: prénommé Eugène, le protagoniste, ardent défenseur de la République, comme son père et son frère, est amoureux d'une artiste (Jeanne), volontaire et très indépendante... comme Berthe.»
Dominique Bona
In: Berthe Morisot. Paris: Grasset, 2002, p. 187-188. (Le livre de poche; 15347)


Édouard Manet - Jeune Homme en costume de majo
Óleo sobre tela, 1863
Nova Iorque, the Metropolitan Museum of Art

Gustave Manet posou para este quadro do irmão.