Prosimetron

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sábado, 24 de outubro de 2009

Duas obras em diálogo!

Hoje li no Público que a partir de 2 de Novembro até 10 de Janeiro de 2010, estarão patentes no Centro Cultural de Belém, no Museu Colecção Berardo, duas pinturas sobre o mito de Édipo, uma de Ingres "Édipo e a Esfinge" outra de Bacon num diálogo entre o passado e o presente. Bacon trabalhou o mesmo tema mas centrou o seu olhar num herói ferido, ensaguentado, salientando o destino dramático de Édipo. A obra de Bacon foi comprada por José Berardo para a Colecção Berardo. Não mostro aqui as duas telas porque já foram colocadas pelo Luís.
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As duas pinturas já estiveram em exposição Museu Ingres, em Montauban, terra natal do pintor francês. Intitulada "Ingres e os Modernos", foi inaugurada a 03 de Julho, deste ano, e incluiu trabalhos de David Hockney, Dalí, Man Ray, Picasso e Robert Rauschenberg, entre outros inspirados pelo trabalho do artista.

Hora de Inverno

- Tilly Strauss, Spiritual Tool # 5 - The Alarm clock, óleo sobre tela, 2007, col. do artista.

Não esquecer que esta noite é mais longa: às duas da manhã de domingo, os relógios voltarão atrás 60 minutos até à uma da manhã. Mais tempo para dormir ou para as outras coisas que a noite permite.

Narciso, Gentileza

Sóror Maria do Céu nasceu em Lisboa em 1658 e faleceu em 1723. Foi abadessa no Convento da Esperança, escritora, poetisa e dramaturga barroca.

Narciso, Gentileza

Tem o Narciso tanta gentileza,
Que na fonte o rendeu sua beleza,
E hoje, porque o conte,
Há Narciso do espelho, e não da fonte,
Homem, que sem conselho,
Como dama te alinhas ao espelho,
O cristal à mulher, a ti o aço,
Abraça o que te é próprio,
Que ser homem e flor está impróprio,
Se és belo, procede de tal arte,
Que quem te vê Narciso, te olhe Marte!

Soror Maria do Céu, Enganos do Bosque, p. 205.

Soror Maria do Céu in João Gaspar Simões, História da Poesia Portuguesa, Das Origens aos Nossos Dias Acompanhada de uma Antologia, Empresa Nacional de Publicidade, 1955, Vol. I p.464.


La Traviata

O Teatro Académico Gil Vicente, TAGV, recebe "A Traviata" da companhia da Ópera Nacional da Moldávia.
Gosto muito desta história de Alexandre Dumas (filho) que foi transposta para a ópera por Giuseppe Verdi com libretto de Francesco Maria Piave.
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A esperteza dos homens...


Assim se confirma o que algumas mulheres já suspeitam...

O chá em troca de um filme no palácio Vale Flor!

Sugestão para um Sábado com pouco sol: ir tomar uma bebida ao Palácio Vale Flor!
No passado dia 19, de Outubro, estava em Lisboa e quis aproveitar a coincidência para ir ver um filme que MR indicou aqui no blogue: Les plages d'Agnès. Porém, quando cheguei à Cinemateca os bilhetes já estavam esgotados. Fiquei tristíssima pois, mais uma vez, perdera o acaso de estar em Lisboa e aproveitar um espectáculo. No entanto, existem almas boas e foi uma delas que me levou a tomar um chá branco no Palácio Vale Flor, Hotel Pestana.
Não me alimentei de cultura mas alimentei-me de beleza!
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Um dos salões do palácio, julgo que o tema, embora não pareça, é o azul que predomina nas pinturas dos tectos
Sala de pequenos almoços

O bar onde desfrutei do chá e da música
Jad,
Obrigada pela correcção do título.

Cinenovidades - 64 : Morrer como um homem

Já em exibição há umas semanas com números razoáveis para um filme português, a mais recente longa-metragem de João Pedro Rodrigues, Morrer como um homem, remotamente inspirado na vida do transformista Ruth Bryden, tem sido objecto de apreciações díspares, até entre os prosimetronistas que já o viram. Quanto a mim, há uma constante na carreira do jovem cineasta: não quer nem nunca quis ser um émulo de Almodóvar, embora também frequente a mesma fonte em que o genial espanhol bebe- o melodrama sirkiano.

Citações - 44 : José Carlos de Vasconcelos

" O novo Governo deve ter como prioridade absoluta a acentuada diminuição das terríveis desigualdades sociais. "

- José Carlos de Vasconcelos, na Visão desta semana.

Impossível discordar, mas de concretização muito difícil.

As redes sociais - 4


Quem não seja adepto do Facebook provavelmente não reconhecerá estes dois nossos compatriotas. Ela é Mónica Marques, de 34 anos, formadora de Português e Inglês, e foi eleita Miss Facebook Universe 2009 concorrendo com candidatas de 70 países, e ele é Ricardo Cruz, 26 anos, cabo do Exército, um dos cinco finalistas para a eleição do Mister Facebook Universe 2009 que ainda decorre, sendo que os votos dos cibernautas também são importantes.
É um dever patriótico!

Cinenovidades - 64 : O Cônsul de Bordéus


Finalmente alguém percebeu o potencial cinematográfico da vida de Aristides de Sousa Mendes, e resolveu passar à acção: começou esta semana a rodagem de O Cônsul de Bordéus, com realização de Francisco Manso e João Correa e Vítor Norte no protagonista, contracenando com Carlos Paulo, Leonor Seixas e Laura Soveral. O argumento é de António Torrado.

O que se espera em qualquer sábado

Saturday sun, do primeiro álbum ( 1969 ) de Nick Drake.

Quotidianos - 23


Postal ca 1931.
Hoje é sabado. Que tal uma banhoca na praia da Figueira da Foz?

Criação de Eva!

Gustave Doré, Criação de Eva


15 Iavé Deus tomou o homem e pô-lo no jardim do Éden para o cultivar e guardar.
16 E Iavé Deus ordenou ao homem: «Podes comer de todas as árvores do jardim. 17 Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás, porque, no dia em que dela comeres, ficarás sujeito à morte»
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxGénesis, capítulo 2, 15-17.
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Gustave Doré, A Bíblia, 230 ilustrações de Gustave com excertos do Antigo e do Novo Testamento, Lisboa: Publicações Europa-América,, sd., p. 11-12.

PARAÍSO : 8 - No Paraíso

Passadas duas semanas sobre a fuga de Lisboa, Pedro e Carina estavam um pouco mais tranquilos no " Chalet Paraíso ", casa que fora habitação de toda a vida dos avós maternos dela. Tranquilidade que não os impedia de manterem alguns dos cuidados dos primeiros dias: Só Carina saía de casa durante o dia, designadamente para fazer as necessárias compras em Albufeira, a localidade mais próxima mas ainda assim a três quilómetros, enquanto Pedro se ia entretendo ora com o velho televisor da casa ora com a limpeza do pequeno quintal situado nas traseiras da velha moradia.
Tinha sido o telemóvel dela, já que o dele tinha sido partido em pedaços ainda durante a viagem ou não fosse Pedro um fã de filmes de acção, a permitir que sossegassem, na medida do possível dadas as circunstâncias, os pais de ambos, sempre ligando anonimamente. Telefonemas que tinham tido o mérito de evitar que os pais de Carina apresentassem uma queixa por sequestro como tinham pensado fazer logo após o desaparecimento da filha, e por outro lado dado a saber a Pedro que tinha sido procurado no bairro " por uns fulanos mal encarados que andaram a rondar aqui o prédio durante três dias, até que o teu pai disse que ia chamar a polícia ".
Disseram às respectivas famílias que estavam em Espanha, procurando emprego e obedecendo ao desejo de viverem juntos.
A relativa tranquilidade em que viviam devia-se também às certezas de Carina: a sua família só usava a casa no Verão, e tinha a certeza que os pais não se lembravam que tinha sido ela a ficar com a chave da Tia Luísa depois de esta falecer no lar da Misericórdia de Albufeira.
A pedido de Pedro, ela falara também, embora nessa ocasião a partir de uma cabine telefónica por recomendação dele, com a mãe do malogrado Quim dizendo a esta que era a namorada dele e que estavam em Espanha para fugir às más companhias. Embora Carina se tivesse oposto, Pedro achara preferível esta mentira piedosa que também lhe era favorável: se a D.Ermelinda soubesse da morte de Quim iria de certeza à Judiciária que não demoraria muito a começar a procurar os amigos do falecido, com Pedro logo à cabeça.
Morte que, apesar dos comprimidos comprados por Carina, ainda continuava a fazer com que Pedro acordasse algumas noites encharcado em suor depois de relembrar em sonho os acontecimentos vividos na Ericeira.
O momento mais alto de cada dia era quando o sol começava a desaparecer no horizonte e eles iam passear nas praias desertas do Outono algarvio como qualquer vulgar par de namorados. Caminhavam na areia de mãos dadas como se nenhuma preocupação os afligisse, embora soubessem que não poderiam ficar muito mais tempo em Albufeira.
Ainda tinham bastante dinheiro, até porque não havia muito onde gastá-lo, mas o problema era outro: No "Paraíso" a água e a electricidade eram pagas por transferência bancária, pelo que não demoraria muito, provavelmente no final do mês, até que os pais de Carina estranhassem o inusitado aumento das respectivas quantias e se pusessem a caminho do Algarve.
Pedro tentara convencê-la muitas vezes a regressar a Lisboa, argumentando com a carreira de enfermagem, com os pais e com os irmãos, esbarrando sempre na recusa dela que lhe retorquia que iria com ele fosse para onde fosse.
Era raro o dia que não acabasse com o estudo do mapa de Espanha que estava estendido no móvel que ocultava a máquina de costura da avó de Carina. Tinham já ponderado Sevilha, Marbella e outras localidades mais obscuras, todas com os respectivos prós e contras. Acabavam sempre adiando a decisão para o dia seguinte.



- Antalya e Lisboa, Outubro de 2009.

Greguerías - 5

«Daquilo que se fala na escuridão fica cópia em papel químico.»
Ramón Gómez de la Serna
In: Greguerías / trad. Jorge Silva Melo. Lisboa: Assírio & Alvim, 1998

Parabéns ONU!

Parabéns às Nações Unidas (ONU) que hoje fazem 64 anos. Com sede em Nova Iorque desde 1950, o seu edifício foi desenhado pelos arquitectos Oscar Niemeyer e Le Corbusier. Apesar de nem sempre alcançar os objectivos para os quais foi criada, após a Segunda Guerra Mundial (24 de Outubro de 1945), é no entanto, de realçar os esforços para defender os Direitos Humanos, a paz, o desenvolvimento económico entre as nações e a auto-determinação dos povos.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Auto-retrato(s) - 30


Dórdio Gomes - Auto-retrato da natureza morta
Óleo sobre tela, 1924
Porto, col. particular

Eduardo Viana


A Ponte D. Maria (Porto)
Óleo sobre tela, 1925
Lisboa, Museu do Chiado

Santa Maria Madalena

A tábua abaixo representada - A Assunção de Santa Maria Madalena - colocou alguns problemas aos historiadores, apenas enumero dois:
- Identificar o autor. A este desafio respondeu Vergílio Correia, atribuíndo-o a Vicente Gil e Manuel Vicente (filho de Vicente Gil);
- Destrinçar a confusão das personagens.
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Vicente Gil e Manuel Vicente, Assunção de Santa Maria Madalena c. 1510-1515

Óleo sobre madeira, 112 cm x 65 cm, tábua do retábulo da capela-mor da igreja de Santa Maria de Celas, do Mosteiro de Celas, Políptico de Celas, Museu Nacional de Machado de Castro, Coimbra
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"... Esta Assunção está copiada da própria Assunção de Nossa Senhora, (do retábulo de Santa Clara) trajando normalmente a companheira de Cristo parcamente, ou estando apenas coberta pela farta cabeleira, confundida, uma vez mais, com Santa Maria Egipsíaca". *
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* Pedro Dias, Vicente Gil e Manuel Vicente, pintores de Coimbra Manuelina, Coimbra: Câmara Municipal de Coimbra, 2003, p. 40

Um músico, um pensamento 1.

Cláudio Monteverdi, Veneza, 1640, Bernardo Strozzi
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"O compositor moderno constrói os seus trabalhos na base da verdade"

Cláudio Monteverdi, in 101 citações para Músicos e Melómanos, Lisboa: Garrido Editores, 2003, (Rita Terry)

Guimarães: fogo no centro histórico


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Estátua de Maria da Fonte, no Largo do Toural

«O incêndio no centro histórico de Guimarães, Património da Humanidade, está circunscrito, tendo destruído duas habitações e obrigado à evacuação de um infantário, disse à Lusa, no local, fonte dos bombeiros. [...]
«Há ainda muito fumo por toda a cidade, mas, como chove torrencialmente, este foi um incêndio praticamente sem chamas, ouvindo-se pequenas explosões com frequência.
«O fogo começou cerca das 12h20, na Rua de Camões, no Largo do Toural, e alastrou-se a vários edifícios.
«As causas do incêndio não são ainda conhecidas.» (Sapo Notícias)
Visitei há uns anos Guimarães e fiquei maravilhada com a recuperação do centro histórico.

Novos sucessos (e record) de Ms. Barbra Streisand

Ms. Barbra Streisand lançou um novo álbum no dia 29 de Setembro, "Love Is The Answer". Em registo jazz, foi produzido por Diana Krall (que também se responsabiliza pelo piano), com duas versões: uma com acompanhamento orquestral, e outra apenas com o quarteto de Krall. Os temas são clássicos como "Ne Me Quitte Pas / If You Go Away", "In the Wee Small Hours of the Morning" ou "Smoke Gets in Your Eyes", suavemente interpretados pela cantora-actriz-realizadora-produtora e outras hífenações. Para celebrar o lançamento, foi realizado no dia 26 de Setembro um concerto privado no "Village Vanguard" de Nova Iorque, onde cerca de 48 anos antes uma mais jovem Barbra Streisand se estreou como número de abertura para Miles Davis. O evento esteve reservado a convidados (como Bill, Hillary e Chelsea Clinton, Sarah Jessica Parker ou Nicole Kidman) e a fans, seleccionados mediante sorteio. A recepção tem sido muito favorável, tendo atingido o #1 do Billboard, o que torna Ms. Streisand a primeira artista a ter um álbum no #1 nos EUA em cinco décadas diferentes. Na semana de lançamento, o sucesso surpreendeu os executivos da indústria musical, pois bateu o novo álbum de Mariah Carey. O álbum foi também #1 no Reino Unido, batendo "Celebration", de Madonna. Eis a interpretação de "If You Go Away / Ne Me Quitte Pas" e "In the Wee Small Hours of the Morning", numa rara entrevista dada à BBC no início deste mês.

O querido Brad

Fernanda não conseguia parar. Era mais forte do que ela e de nada tinham servido as lágrimas da mãe, as gritarias da irmã ou mesmo as conversas semanais com o Dr.Barbosa.
Até o fim do namoro com Rui, depois de este aguentar durante seis meses uma concorrência impossível, não tinha produzido qualquer efeito.
Tal como vinha fazendo nos últimos anos, Fernanda começava e acabava o dia correspondendo-se com o seu querido Brad. Todos lhe diziam que não era a estrela quem lhe respondia mas sim um qualquer funcionário do respectivo manager, mas Fernanda recusava-se a acreditar - " E a assinatura na fotografia que ele me mandou também não é dele? ". Fotografia autografada pela conhecida estrela de cinema que Fernanda tinha mandado emoldurar e que beijava diariamente pelo menos duas vezes- ao acordar e ao deitar.
Além do correio electrónico diário, Fernanda enviava de quando em vez umas "encomendas" ao conhecido actor de Hollywood: entre queijadas de Sintra e pastéis de Tentúgal, seguiam também cd's de Amália e uns versos do Fernando Pessoa em inglês. Também os risos mal disfarçados das meninas dos Correios não incomodavam Fernanda - "Umas invejosas" era como as retratava perante Carolina, a sua colega no emprego, melhor amiga e também fã do querido Brad, embora Carolina limitasse a sua adoração por Brad a ter o quarto onde dormia forrado de posteres do dito e a enviar-lhe ocasionalmente uns mails.
Era no emprego, um call-center de uma conhecida marca de telemóveis, que Fernanda mais sentia a "inveja" dos comuns mortais. Raro o dia em que não lhe dissessem perante um cliente mais demorado a explicitar a reclamação- " É o Brad ao telefone? Cuidado com a Angelina", o que provocava uma gargalhada geral aos demais operadores e até um sorriso discreto ao supervisor.
Os serões de Fernanda eram relativamente iguais uns aos outros: assistir no seu televisor gigante que ainda estava a pagar à filmografia de Brad Pitt, à excepção do filme Seven que via só de vez em quando porque lhe perturbava o sono.Tinha todos os dvd, incluindo as versões especiais e de aniversário, sobretudo por causa de alguns extras: as preciosas entrevistas concedidas pelo actor sobre o filme em causa. Domingo era também dia de Brad, pois que era o dia reservado por Fernanda para pôr em ordem a colecção: uma meia dúzia de pesados dossiês cheios de fotografias e artigos de revistas e jornais sobre o actor. Tudo muito bem recortado e catalogado, sendo que as peças que iam amarelecendo com o tempo eram substituídas por fotocópias.
Foi precisamente com um artigo de jornal que a rotina de Fernanda se alterou: o seu amado ídolo viria a Portugal para integrar o júri de um festival, o Estoril Film Festival em Novembro, e traria a família para conhecer o país. Com cerca de um mês para se preparar, Fernanda sabia que tinha de agir depressa. Para surpresa de todos, aderiu a um ginásio cumprindo penosamente três vezes por semana as rotinas dos instrutores, iniciou uma dieta e surpreendou o Jójó do "Salão Ideal" ao pedir-lhe um penteado novo com extensões e madeixas.
O seu inglês não era perfeito, especialmente em conversação, mas era tudo uma questão de tempo e Brad compreenderia.
Um sábado de manhã, aproveitando uma ida à Baixa, Fernanda comprou óleo numa espingardaria do Rossio junto à estação com o mesmo nome e essa tarde foi passada a olear cuidadosamente a velha pistola que o pai tinha trazido da tropa e de que ela se tinha apropriado durante uma visita a casa da mãe.
Tudo tinha de estar pronto para o dia 5 de Novembro: Fernanda já sabia qual era o hotel, os horários e o itinerário do casal Brangelina.
Fernanda também sabia que de início não seria fácil para Brad e para as crianças, embora ele já soubesse que ela adorava crianças conforme constava de vários mails, mas sobretudo Fernanda acreditava no preceito tantas vezes enunciado pela sua mãe: "O tempo resolve tudo."
Era inevitável, Angelina tinha mesmo de morrer.



Bom dia !

Ainda não têm razão os Supertramp, mas não deverá demorar muito...

Pequenos monstros do nosso tempo - 1

O primeiro escolhido para esta galeria é Didier Lombard, o presidente da France Télécom.
Não tanto pela sua "gestão pelo terror", porque nesse caso esta galeria ficaria rapidamente cheia, com o chamado princípio da mobilidade sistemática que implicava a cada três anos uma deslocação do trabalhador e a cada 18 meses uma mudança de funções, mas mais pela maneira como reagiu à vaga de suicídios que tem assolado a empresa que dirige e que se tornou incontornável no Verão passado com a escalada que fez manchete nos noticiários mundiais.
Reagindo aos suicídios, Lombard declarou que eram "um pequeno choque" e "uma moda", tendo sido estas declarações que levaram a que fosse "massacrado" pelos sindicatos e pela opinião pública e a que caísse em desgraça junto do governo francês.
Obrigado a pedir desculpas pelo que disse, Lombard viu-se forçado também a cancelar o dito princípio da mobilidade sistemática que atormentou muitos funcionários da empresa e respectivas famílias. Tudo indica que Lombard ocupará o cargo até ao fim do seu mandato que termina em 2011.
Convido os demais prosimetronistas a indigitarem outros "notáveis" dignos de integrarem esta galeria. Estou certo de que andam muitos "monstrinhos" por aí.

Numa de Revivalismo... Tango Funebre!

Ontem Jacques Brel bateu à minha porta e trouxe-me este tango.

Contrato

Ernesto Canto da Maia, (Pormenor) Adão e Eva, Museu do Chiado



CONTRATO

Se estiveres contente, dou-te uma maçã;
se tiveres medo, torço a tua mão;
e se me deixares, quero apertar-te,
sem te fazer mal, contra o coração.

Se eu estiver contente, dás-me uma maçã?
se eu estiver com medo, torce a minha mão.
E se tuquiseres, podes apertar-me,
sem me fazer mal, contra o coração.

Isto é um contrato, só com dois se faz:
venho oferecer-to com desesperada
calma, sendo incerto que estes nossos jogos
possam dos amantes expulsar demónios.

Gastão Cruz, in A alma não é Pequena, Vila Nova Famalicão: Centro Atlântico, p. 93

Boa noite!


Há uns longos meses ouvi este pianista na rádio. Encomendei então um cd que, inesperadamente, chegou há três dias.

Ao piano 12.

Adoro Matisse e as suas cores. Tinha guardado na caixa de memórias esta tela riquíssima. Os quatro planos em que se divide o quadro: a escultura no jardim, o rapaz solitário (?), a lição de música e o homem que lê e fuma, fornecem um conjunto de informações e algumas possíveis histórias... Fertiliza a imaginação de cada um, leva ao desenrolar do fio de Ariadne e à criação de uma pequena ficção que tanto pode ser próxima do pintor como distante da simples encenação que ele criou.
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Henri Matisse, The Music Lesson. 1917.
Oil on canvas. Barnes Foundation, Lincoln University, Merion, PA, USA.

Greguerías - 4


Da exposição que se encontra patente na Biblioteca Nacional.

«Onde o tempo e a poeira mais se unem é nas bibliotecas.»
Ramón Gómez de la Serna
In: Greguerías / trad. Jorge Silva Melo. Lisboa: Assírio & Alvim, 1998

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

La ci darem la mano - Don Giovanni

La ci darem la mano - Thomas Allen & Elizabeth Gale. I Acto, Don Giovanni, Mozart

Valentina Lisitsa


interpreta «Grande Galope cromático», de Liszt.

Pégaso!

A.S. levou-me a procurar um Pégaso por causa da sua referência ao "Postilhão de Apolo". Esta tela pertenceu a D. João VI e está no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, inaugurado em 1938.
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Jan Boeckhorts, Pégaso
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Óleo sobre tela, 133 x 168 cm, sem assinatura, obra pertencente a D. João VI, Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, Brasil

Quotidianos - 22


Gustave Caillebotte - Rue de Paris et temps de pluie
Óleo sobre tela, 1986-1877
Chicago, Art Institute of Chicago


Este quadro representa um dia de chuva na confluência das ruas de Turim e de Moscovo.

O Pontilhismo na arte comercial


Respondendo ao pedido do Fulvio Carreri ( U.Fed. de São Judas ) aqui estão dois exemplos de utilização na arte comercial ou para fins comerciais como preferirem do Pontilhismo, técnica e movimento de pintura que teve em Seurat um dos pais.
O primeiro dos exemplos que vemos acima são folhas de transferência ( transfer sheets ) ou decalques para usar o termo mais vulgar, usadas para decorar chocolates e outras sobremesas ( exemplos em Bakedeco.com ), enquanto que o segundo, de motivos arbóreos, é utilizado na indústria têxtil designadamente em tecidos de algodão.

1966 : The Supremes


A 22 de Outubro de 1966 as The Supremes conseguiram uma proeza: pela primeira vez um álbum de um grupo musical feminino dominava os tops dos Estados Unidos da América. Um dos temas mais apreciados e depois lançado como single foi este You can't hurry love.
É bem verdade que não podemos apressá-lo...

A fita azul

Como já devem ter reparado, o Prosimetron tem desde hoje um novo elemento gráfico, uma fita azul no canto direito da página inicial.
Fita azul que simboliza a liberdade de expressão na Internet, valor que damos por garantido mas que para muitos bloggers noutros continentes implica uma luta diária, aborrecimentos e mesmo sanções legais.

Ainda 2012


Ontem, numa ronda pelas livrarias, descobri estas recentes edições sobre o prometido apocalipse para 2012 de que já aqui falei há dias. Se o ritmo se mantiver, palpita-me que veremos muitos outros volumes aparecerem até à data em causa. Surgiu-me uma questão: será que já há algum livro sobre o tema escrito por um nosso compatriota? Se o descobrirem, ou melhor quando o descobrirem, avisem. Tenho a certeza que haverá algures um português a pensar aproveitar este filão.
Pensando bem, não é má ideia: basta reciclar umas coisas da net, arranjar umas imagens giras da antiga civilização maia, e plagiar discretamente alguns estrangeiros aqui e ali... Tem é que ser depressa para ser o "primeiro português a" e garantir as entrevistas nas tv's . Hum...

1811 : Franz Liszt

Um dos incontestados reis do piano, Franz Liszt nasceu a 22 de Outubro de 1811. Esta Consolação Nº 3 é uma das suas composições de que mais gosto, aqui interpretada por Vladimir Horowitz. Ideal para "os insuportáveis dias cinzentos", expressão usada há dias por um querido amigo que também vai passando aqui pelo Prosimetron.

PARAÍSO : 7 - Madrugada

" O Quim morreu, o Quim morreu ". A cabeça de Pedro latejava, tanto como o motor do pequeno Smart que seguia rumo ao bairro. Apenas uma hora tinha passado desde que o Amílcar matara o Quim como nos filmes: com o cano da pistola encostado à nuca, no meio de uma conversa banal na sala de estar da casa da Ericeira.
Enquanto o Dread e o Zé cortavam um bocado da velha e carcomida alcatifa, agora empapada de sangue, para nela embrulharem o Quim, Amílcar explicara: " Este porco andava a roubar-me há meio ano, ele e o sacana do Vladimir tinham um esquema com dois gajos do Rafael. O cabrão do moldavo já está a servir de isco para os peixinhos, que é o mesmo que vai acontecer aqui ao nosso amigo Quim. Mas não te preocupes, sei que não estavas feito com eles e vou dar-te uma prova de confiança. "
A confiança de Amílcar passava pela recuperação do dinheiro de Quim. Não tendo este sequer conta bancária, o dinheiro tinha de estar guardado nalgum lado, muito provavelmente em casa da mãe com quem nunca deixara de viver.
Era esta a missão de Pedro: ir a Santa Filomena procurar o dinheiro que havia dado a morte a Quim.
Apesar da velocidade e da estrada deserta, o percurso entre a Ericeira e o bairro tinha parecido interminável, tal como a espera discreta junto à Torre C até que fossem cinco da manhã e a D.Ermelinda saísse de casa para apanhar o primeiro autocarro do dia rumo ao escritório de advogados onde fazia limpezas. Pedro viu-a finalmente sair do prédio, alheada do destino do seu único filho que estaria a esta hora a ser sepultado no Tejo com a ajuda de um saco de tijolos ou qualquer outra coisa pesada.
O palpite de Amílcar revelou-se acertado: entre o que tinha encontrado debaixo da cama, dentro de um falso livro na pequena estante e numa caixa de sapatos no roupeiro, Pedro contou 4800 euros que guardou num bolso interior da sua mochila.
Saiu rapidamente de S.Filomena, não queria ser visto nesta que era uma das horas de ponta do bairro em que as portas de vários prédios iam deixando sair mulheres a caminho de limpezas e homens a caminho de obras, ao mesmo tempo que a fauna nocturna regressava para o descanso.
Pedro não seguiu no entanto para a Ericeira, onde era esperado, mas sim em direcção ao Amadora-Sintra reiterando para si próprio o que havia decidido ao sair de casa de Amílcar: custasse o que custasse, não voltaria à mesma vida que tinha levado nos últimos meses.
Tinha de deixar Lisboa o mais rapidamente possível, mas não queria fazê-lo sem ao menos falar com Carina a quem tinha pedido que não saísse do hospital até que ele chegasse.
Ela esperava-o no local combinado, fora do recinto hospitalar, e foi ela que decidiu segui-lo, apesar das tíbias recusas de Pedro. Foi ela também quem decidiu usar a caixa multibanco do hospital para tirarem da sua conta o máximo possível, e foi ainda ela quem sugeriu a troca de carros: o Smart de Pedro ficaria perto do hospital e levariam o Clio dela.
Finalmente, foi Carina quem decidiu o local onde se iriam acolher.
Às sete e meia da manhã, Pedro e Carina atravessaram a Ponte 25 de Abril.

( cont. )

A Fenix Renascida!

Aos serviços da Biblioteca Nacional deixo o meu apreço e agradecimento pelo trabalho da digitalização de obras antes inacessíveis, a partir de casa.
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Escolhi este trecho por achar linda a estrofe,
BND,
Fénix Renascida, fl 4
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A Fenix Renascida ou Obras Poeticas dos melhores Engenhos portuguzes [sic]... / segunda vez impresso, e accrescentado por Mathias Pereira da Sylva. - Lisboa : na Offic. dos Herd. de Antonio Pedrozo Galram, 1746. - 5 vol. ; 4º (20 cm, [L. 3276 P.] ) http://purl.pt/261
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Os antigos possuidores desta obra era a Ordem dos Eremitas Descalços de Santo Agostinho. Convento de Nossa Senhora da Conceição do Monte Olivete, Lisboa.

Gugliemo Marconi

Na passada segunda-feira, dia 19 de Outubro, assisti à conferência de Inês Queiroz, investigadora do Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, sobre Gugliemo Marconi, no Istituto Italiano Di Cultura Di Lisbona. Já cheguei um pouco atrasada mas gostei da forma como a jovem investigadora expôs a personalidade de Marconi, marcando as suas visitas a Lisboa, a fim de negociar com o governo a implementação da sua empresa de comunicações.
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A pequena exposição patente no Instituto Italiano conta com alguns cartazes elucidativos sobre as descobertas de Marconi e a evolução da comunicação sem fios.


Gugliemo Marconi com 22 anos de idade



O jovem Marconi com a mãe Annie Jameson



Graças, em parte, aos estudos de Marconi podemos ter hoje o domínio das comunicações.

Boa noite!

Greguerías - 3

«Como davam beijos lentos, duravam-lhe mais os amores.»
Ramón Gómez de la Serna
In: Greguerías / trad. Jorge Silva Melo. Lisboa: Assírio & Alvim, 1998

Um quadro, um perfil, um detalhe!

Detalhe do quadro "Las Meninas", auto-retrato de Velázquez. Este quadro já foi sobejamente estudado. Coloquei-o por gostar imenso deste auto-retrato de Diego porque o seu olhar penetrante acompanha-nos quando o observamos. Segundo alguns estudiosos a Cruz de Santiago foi só colocada após a morte do pintor.
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Diego Velázquez, auto-retrato no quadro "Las Meninas'', 1656
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Óleo sobre tela, 318 cm × 276 cm, Museu do Prado, Madrid

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

La Pluie,

Para terminar a noite aqui fica este dueto com o bailado La Pluie, que é o mesmo que estou a ver e ouvir através da janela com a chuva intensa que nela bate.

Duet made for the Geneva Ballet (Switzertland) 2005. Choreography: Annabelle Lopez Ochoa. Dancers: Celine Cassone, Gregory Batardon. Music: J.S. Bach

21 de Outubro de 1924 : Celia Cruz

Foi a 21 de Outubro de 1924 que nasceu Celia Cruz ( 1924-2003 ) incontestada rainha da salsa e uma das maiores estrelas que Cuba já deu ao mundo. Aqui a vemos, numa das suas últimas aparições em público, cantando Yo viviré.

Karl Zéro

Aqui fica um francês que tenho quase a certeza ainda não abrilhantou o Prosimetron. Trata-se do divertido e inclassificável Karl Zéro. É para exorcizar a chuva.

Blogues - 7 : Letra pequena


O Letra pequena é um blogue sobre livros infanto-juvenis que recomendo, até porque sei que há quem aqui no blogue goste da temática.

Novidades - 76 : Saramago ao ataque

Está à venda desde segunda-feira o mais recente livro de José Saramago, Caim, que versa sobre a figura deste filho segundo de Adão e Eva, mas que vai além da história do mau filho e pior irmão do livro primeiro do Antigo Testamento, sendo mais um ajuste de contas do nosso Nobel com a Igreja Católica.
Tenho acompanhado a polémica que até já atravessou as nossas fronteiras, desde logo no Parlamento Europeu pela mão dos euro-deputados portugueses Edite Estrela e Mário David.
Esta manhã, ouvindo, como de vez em quando o faço, o Fórum da TSF, percebi que podemos estar perante uma nova polémica Saramago/Igreja de Roma. Entendo as palavras proferidas na antena da TSF por Zeferino Coelho, editor de Saramago e que tenho por homem sério, no sentido de que não se trata de um golpe de marketing, mas também achei muito sábias as palavras de Anselmo Borges, um dos nossos melhores teólogos, no sentido de explicitar o pensamento da Conferência Episcopal Portuguesa: os bispos não estão contra o livro, que é uma obra de arte, mas sim sobretudo contra as declarações proferidas por Saramago contra a Igreja Católica, designadamente o que foi dito em Penafiel aquando da apresentação do livro.
E Anselmo Borges tocou noutro ponto que para mim é essencial: Saramago não traz nada de novo com este livro. Denunciar as contradições internas de alguns livros do Antigo Testamento? Denunciar este como um repositório de imensa violência? Nada disto é novo, e tem sido objecto de estudo de gerações de exegetas.
Dizer que a Bíblia é "um manual de maus costumes" como Saramago tem dito, sem especificar sequer se fala do Antigo ou do Novo Testamento, é uma provocação primária no meu modesto entender.
Apesar do que disse Zeferino Coelho, uma coisa é certa: a polémica não prejudicará as vendas.
Quanto a mim, não o comprarei. Não por preconceito, mas porque não gostei dos excertos que já tive oportunidade de ler. Tenho coisas muito melhores para ler.

Hans Baldung Grien

Gravura - 1517
22,3 x 15,3 cm

Ainda não sei se vou ou não comprar, mas tenho estado todo o dia a namorar...

O espelho 8 !

Gosto deste quadro de Vélazquez por causa da existência do anjo, dos drapeados e do espelho que reflecte a beleza de Vénus. Encontrei-o na National Gallery, em Londres. No site do museu não estão as medidas da tela.
Diego Velázquez, The Toilet of Venus, 1647-51

National Gallery, London

Flores 5 - Bonsai

Bon-sai, em japonês, é a arte de fazer pequenas árvores. Parece, no entanto, que foram os chineses os primeiros a cultivarem árvores em vaso. Este bonsai é curioso por causa da sua flor tão exótica.
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Caliandra

«Eu fui um grande homem antes de escrever folhetins! Deus perdoe a quem me torceu a vocação!»

Camilo Castelo Branco
In: Cenas contemporâneas

Folhetim

A propósito do Paraíso que anda por aqui...


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Júlio César Machado (1835-1890), um dos grandes folhetinistas portugueses.

O folhetim nasceu em França, no tempo do Consulado, com o padre Julien-Louis Geoffroy (1743-1814), que publicava as suas críticas dramáticas na parte inferior da página do Journal des Débats. Durante o século XIX, na coluna folhetim saiam críticas literárias, musicais e teatrais, bem como poesias e romances, sem do que, no século XX, o folhetim passou a publicar quase exclusivamente romances. Cultivaram o folhetim em Portugal, entre centenas de outros, A. P. Lopes de Mendonça, Júlio César Machado, Visconde de Benalcanfor, Alberto Pimentel, Camilo, Luís Augusto Palmeirim, etc.
Um dos últimos casos, que me recordo, de um folhetim, em Portugal, foi a publicação em O Jornal de E se tivesse a bondade de me dizer porquê?, de Clara Pinto Correia e Mário de Carvalho.
Ernesto Rodrigues dedicou ao assunto um estudo: Mágico folhetim (Lisboa: Ed. Notícias, 1998).
(Bibl.: GEPB)

Uma procura sem fim... ?


Quando conheci o Rogério, ele era um tranquilo católico apostólico romano da variedade praticante, com missa dominical, confissão e comunhão.
Uma certeza de vida que Dan Brown veio perturbar com o seu Código Da Vinci. O Rogério só então, como aliás muitos outros católicos e cristãos de outras filiações, tomou contacto com toda a literatura apócrifa dos primórdios do Cristianismo.
Foi uma fase de efervescência na vida do meu amigo, que durante meses só lia e falava de Nag Hammadi, dos Manuscritos do Mar Morto, dos Essénios e ainda mais obscuros outros grupos.
O que não tínhamos contado era que toda esta agitação o conduzisse como conduziu ao Judaísmo.
Começou então o Rogério a ler tudo o que encontrava sobre a religião mosaica e, para ainda maior surpresa nossa, a "infiltrar-se" na comunidade judaica de Lisboa. Passados longos meses, e quando o já o víamos, nas nossas conversas, pronto a abdicar de um certo pedaço de pele, nova revelação num aniversário de um amigo comum: " O Judaísmo é uma religião ultrapassada, para gente que vive no deserto, só regras absurdas, já leram o Levítico? " Assim falou, não Zaratustra, mas o nosso Rogério.
Umas semanas depois, tive a oportunidade de jantar com ele e verifiquei que tinha voltado às águas do Cristianismo, embora pela via reformista: jurava agora pelo Calvinismo, que considerava o "cristianismo mais puro e rigoroso", e até tinha descoberto perto de casa uma igreja calvinista.
No entanto, nem este ramo do protestantismo resistiu ao apelo de O SEGREDO, um livro de auto-ajuda que foi um campeão de vendas a nível mundial e até fez o nosso Rogério abrir os cordões à bolsa: comprou o dvd e até foi a alguns seminários.
Tudo era possível com este "livro maravilhoso" dizia-nos ele, sendo certo que por essa altura já fazíamos apostas entre nós sobre quanto tempo demoraria até o vermos no Chiado com a característica túnica laranja dos Hare Krishna.
Felizmente, nada de tão radical aconteceu, se bem que tememos bastante pelo nosso Rogério quando à leitura do "livro maravilhoso" se seguiu a descoberta de outro livro, "Dianética", o livro sagrado da Cientologia, escrito pelo fundador desta e antigo escritor de ficção científica L.Ron Hubbard. Aí então, valeu-lhe a sua conhecida forretice: quando soube quanto lhe custaria atingir o nível de "Clear", coisa para uns largos milhares de euros, decidiu que também a Cientologia não era a resposta que procurava. Como dizia a Maria Clara, o Rogério é do ramo da "espiritualidade sim, mas cuidado com a carteira".
Já este ano, em Março se bem me lembro, disse-me a Lúcia que tinha a certeza de tê-lo visto numa sexta-feira a entrar na Mesquita de Lisboa.
Uns dias depois, telefonei-lhe e ele confirmou o relato de Lúcia, perguntando-me logo de seguida se eu já tinha lido o Corão. Confesso que fiquei tão perplexo que nem dei muita atenção ao resto da conversa, embora tenha uma vaga ideia de ter ouvido as palavras "o imã escondido" e " milhares de virgens".
Passado o Verão, em que ninguém viu ou falou com o Rogério, tanto em Lisboa como no nosso habitual poiso no Algarve, telefonei-lhe sem sucesso: o número de telemóvel já não estava atribuído, o número fixo idem e no emprego ninguém sabia dele, tendo a secretária dito qualquer coisa sobre um processo disciplinar por faltas injustificadas.
Preocupado, fui a casa da D.Rita, a simpática e jovial mãe do Rogério. A senhora, no entanto, parecia ter envelhecido dez anos. Mostrou-me um postal, escrito na letra do filho sem sombra de dúvida, mas assinado "Ibrahim" e expedido de Kabul.
Desde então, andamos todos a tentar saber do nosso Rogério: junto do MNE, do xeique Munir da Mesquita de Lisboa que nos disse que ele " ultimamente se dava com uns elementos algo radicais " , escrevemos ao António Guterres para o caso do nosso amigo ter ido parar a algum campo de refugiados e, em desespero de causa, até fomos falar com o Nuno Rogeiro que conhece toda a gente entre Seca e Meca e está sempre muito bem informado. Infelizmente, nem o Nuno Rogeiro nos conseguiu ajudar, embora tenha sugerido que não perdíamos nada em falar com o Marcelo, que " conhece menos gente do que eu mas tem acesso ao Cavaco ".
Nada conseguimos apurar até agora, e começamos a estar cansados: pela minha parte farto de visionar tantos sites islâmicos radicais na net na esperança de ver uma fotografia do nosso Rogério-Ibrahim,e começando a recear que o SIS se interesse por mim ;e a Lúcia farta de chá: chá com a Ana Gomes, chá com a Margarida Sousa Uva, chá com a Laurinda Alves e para a semana uma audiência com a Dra.Maria Cavaco Silva, presumindo-se que com chá também.
A D.Rita está a planear ir até Kabul em Janeiro se nada se souber entretanto, e tem-nos perguntado, a mim, à Lúcia, ao Augusto Filipe e à Maria Clara, se algum de nós pode tirar uns dias de férias nessa altura para a acompanhar na viagem.
Talvez seja escusado dizer que ainda ninguém se ofereceu.