Prosimetron

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sábado, 6 de junho de 2009

China (século XII)


Este é um famoso quadro chinês, tesouro cultural do país e património do Museu de Xangai (Shanghai), que leva multidões a apreciá-lo demoradamente. Pintado entre 1085 e 1145 (repintado durante a dinastia Qing), mede cerca de 24.5 por 5,28 m.

Apreciem-no, deslocando o cursor: Ao longo do Rio durante o Ching-mig Festival (século XII). Quando aparecerem quadrados brancos, cliquem neles (ou carreguem nos quadradinhos que se encontram por baixo).
Atenção demora um pouco a carregar, mas o resultado é surpreendente!

Cristina Branco : O meu amor


Do disco: Sensus (Universal, 2003)

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca
Quando me beija a boca
A minha pele inteira fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada, ai

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos
Viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo
Ri do meu umbigo
E me crava os dentes, ai

Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me deixar maluca
Quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba malfeita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita, ai

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios
De me beijar os seios
Me beijar o ventre
E me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo
Como se o meu corpo fosse a sua casa, ai

Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz

Chico Buarque

José Rodrigues Miguéis



Ilustradores - 3


Lisboa: Dom Quixote, 2005



Rui Paes ilustrou Pipas de Massa de Madonna e está a ilustrar um livro sobre o Teatro Nacional de S. Carlos, com texto de Alice Vieira.
Em 2007 expôs as ilustrações de Pipas de Massa no átrio deste teatro.
Comprei o livro, pelas ilustrações. Nunca o li.

Culto do Chá 1, Wenceslau de Moraes!

Com Wenceslau Moraes vou focar dois ou três pontos sobre o culto do chá no Japão. MLV e MR já falaram aqui dos ritos do chá. Pretendo revelar o mesmo noutra perspectiva.
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Jean Metzinger (1883-1956), Tea Time (Woman with a Teaspoon), 1911

Oil on cardboard, 794 x 991 x 44 mm
Philadelphia Museum of Art: The Louise and Walter Arensberg Collection, 1950
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Wenceslau de Moraes escreveu a obra "O Culto do Chá" em 1905. Viveu vários anos no Japão, apaixonou-se por aquela cultura e foi nesta obra que prestou uma verdadeira homenagem às mulheres japonesas, à sua gentileza; «a mais feminina de todas as Evas deste mundo».
O autor faz uma breve introdução histórica da entrada do chá no Japão e descreve os ritos a ele ligado.
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"O chá japonês tem a virtude de acalmar a sede. Assim se explica o hábito dos Japoneses não beberem água; mesmo na força dos calores, em pleno agosto, a chávena de chá, saboreada a goles, lhes dá pleno consolo"
Wenceslau de Moraes
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Wenceslau de Moraes, O Culto do Chá, Lisboa: Padrões Culturais Editora, 2007 (1ª edição), p. 8-7.

Bruxelas BD - 1





Há um itinerário em Bruxelas que comporta
18 pinturas de BD pela cidade. Vou colocar 8 delas.

A Tentação do Ocidente 2. André Malraux!

Na Tentação do Ocidente, André Malraux narra a visão que tem um jovem chinês sobre a Europa.

Cúpula da Basílica de S. Pedro, Roma, Vaticano


De Ling a A.D.

Paris
Caro Senhor:
Segui os seus conselhos. Venho de Roma, onde permaneci durante bastante tempo. Senti vivamente o encanto desse belo jardim de antiquário ao abandono, ao qual a última divindade latina fez a oferenda da harmonia um pouco dura a que chamais estilo. Mas, ainda que ele encerre alguns dos mais potentes temas de meditação que a Europa contém em si, não lhe achei - porque não confessá-lo? - essa alma que possuem tantas cidades mais solitárias, o que me decpcionou até ao ponto de me entristecer. No entanto, aprendi, pouco a pouco, a comover-me ante esta paisagem onde as recordações clássicas em vão tentam ordenar um vazio infinito, onde os templos são cercados de pátios de colunas quebradas de igrejas repletas de maravilhas.

André Malraux, A tentação do Ocidente, Lisboa: Livros do Brasil, 2005, p. 27.

Inês de Castro, Costa Pinheiro!

Inês de Castro (1966) .
Inês de castro nesta tela assume a figura de boneca, olhos como corações chorando, vestida de vidrinhos, Inês exprime a ternura da lenda de amor e não se preocupa com a verdade científica.
Costa Pinheiro nasceu em Moura em 1932. Frequentou a Escola António Arroio e a Escola de Belas-Artes de Lisboa. Realizou, em 1966, uma série de retratos imaginários dos reis de Portugal numa recriação lírica e irónica das lendas populares. O traçado corresponde ao dos tradicionais jogos de cartas.
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100 Pintores Portugueses do Século XX, [sl.sn.], 1992. Fundo documental da Biblioteca Municipal de Coimbra, p.168-169.

Somewhere Over The Rainbow - Rufus Wainwright (Palladium)

Um "cover" magnífico!

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Mark Rothko ao almoço


Uma conversa interessante não precisa de ter longas horas. Menos de uma hora pode ser mais que suficiente para nem se dar pelo tempo passar. Foi o que me aconteceu hoje depois de conseguir um "tempinho" para almoçar com um ex-colega de trabalho (o António Nobre já aqui trazido através das suas belas fotos; lembram-se de "Sob o olhar da lente"?). Além da máquina fotográfica, o António também anda munido de pincéis, paleta e tinta. Durante o almoço foi-me falando dos seus progressos na pintura, das suas preocupações estéticas e das exposições que tem visto. E assim a arte foi o tema dominante à mesa. Conversámos ainda sobre questões como a fronteira entre o talento e a técnica, até que ponto a técnica pode compensar a aparente ausência de talento, tornando muitas vezes as obras um tanto incompreensíveis, enigmáticas ou até interrogativas... A este propósito o António recordou uma viagem que fez a Nova Iorque onde na altura diversas galerias de referência exibiam trabalhos de Mark Rothko, cujas telas se apresentavam em muitos casos monocromáticas ou "simplesmente" preenchidas com duas ou três formas mais ou menos geométricas cada uma de sua cor. Pouca criatividade para tão elevada cifra quando se trata de adquirir um Rothko, pensarão alguns! Piora um pouco quando os números nos indicam que a pintura deste autor atinge em leilão valores como 22,5 milhões de dólares podendo mesmo chegar aos 73 mil milhões (2007) como foi o caso do quadro "Homenagem à Matisse" em tons de amarelo, rosa e lavanda, um autêntico recorde para artistas do pós-guerra.
Como nada sabia acerca de Rothko, no regresso do almoço pesquisei sobre este pintor de origem judaica, nascido na Letónia (1903-1970) e que emigrou para os EUA. Se Mark Rothko foi um pintor expressionista abstrato (embora rejeitasse o rótulo) conhecido pela sua natureza ansiosa, irascível mas também afectuosa foi reconhecido pela sua grande cultura; amou a música, a literatura e muito especialmente a filosofia com particular interesse pelos escritos de Nietzsche e pela mitologia grega. Fortemente influenciada pela obra de Matisse, a pintura de Rothko pretendeu "aliviar o vazio espiritual sentido pelo homem moderno" ao mesmo tempo que devolvia o "reconhecimento estético necessário à libertação das energias inconscientes através de imagens, símbolos e rituais mitológicos". Ao observar alguns quadros de Mark Rothko não consegui decifrar os tais "símbolos místicos" nem senti "emoções básicas humanas como a tragédia, o êxtase ou o destino" de que as suas obras se revestem. Em vez de tudo isso reconheci uma pintura de indiscutível modernidade tendo em conta em época em que Rothko viveu. Mais: senti uma pintura onde quadrados e rectângulos de cores intensas e luminosas fazem uma barreira com o tempo, sem datas, que podia ter sido feita hoje e que convida a tranquilos momentos de contemplação.
Em 1970, aos 66 anos, Rothko foi encontrado morto. Tinha-se suicidado e a autópia revelado uma elevada dose de antidepressivos. O pintor que dedicou os últimos tempos da sua vida a um lento processo de auto-destruição com muita bebida, tabaco e uma alimentação deficitária, entrou em queda livre após lhe ter sido diagnosticado um aneurisma da aorta forçando-o a abrandar a sua produção artística.
Mark Rothko dizia-se um "fazedor de mitos". Viveu e morreu fiel a uma das suas máximas: "A experiência trágica fortificante é para mim a única fonte de arte". Gostei de conhecer este pintor e a sua inquietante personalidade.

frase da semana

O ciumento sempre espiona, sempre duvida, sempre sofre; indaga do passado, do presente, do futuro; nas carícias busca a mentira; no beijo procura a indiferença; no amor teme a hipocrisia.

Paolo Mantegazza

Olho por olho...

A aplicação da máxima "olho por olho"... leva a que todos ficamos cegos!

Julgo que foi Mahatma Gandhi quem o afirmou.

Na morte de Glória de Sant'Anna



Recebemos de Margarida Pereira-Müller , leitora do Prosimetron e amiga do nosso Filipe Vieira Nicolau, este testemunho sobre a morte da poetisa Glória de Sant'Anna :


Morreu Glória de Sant'Anna. Uma poetisa tão sensível que sente com as plantas. Como escrevi há anos num artigo publicado na LAÇOS: O portal da Internet sobre Glória de Sant'Anna começa com uma pergunta: "Já alguma vez arrancou uma planta útil da terra? Não o faça. Eu sei o que sente uma planta arrancada sem culpa do seu chão". (do Livro Amaranto).Que mulher é esta que sente com as plantas? Uma mulher sensível que já navegou "pelo interior de um longo rio humano / de tempos diversos onde também há sangue vegetal, / buscando o que acabei por encontrar - a imensa / angústia que se reparte. / Sobre isso escrevo."

Mas uma poetisa nunca morre, está sempre viva e presente. Fica para sempre connosco através da sua escrita.

Um abraço

Margarida

60 anos de uma nação: 1968

A Associação de Estudantes Socialista Alemã da RFA convoca um congresso de dois dias em Berlim para debater a situação do Vietname. Intelectuais de todo o mundo, entre eles, Jean-Paul Sartre, Pier Paolo Pasolini ou Hans-Magnus Enzensberger saúdam a iniciativa. Os estudantes criticam o imperialismo dos Estados Unidos bem como o apoio dos Aliados na Europa. A segunda jornada termina com uma manifestação pelas ruas de Berlim (ocidental): 10.000 estudantes gritam “Ho-Ho-Ho-Tschi-Minh”, mostram orgulhosamente os retratos de Mao e Che Guevara em centenas de cartazes e exigem a revolução socialista em todo o mundo. A contra-manifestação não se faz esperar. Apenas três dias depois, mais de 80.000 manifestantes organizam um comício sob o mote “Berlim não é Saigão”.

A Quinta-Feira Santa de 1968 marca o início das revoltas estudantis: o popular líder estudantil Rudi Dutschke é vítima de um atentado no Kurfürstendamm de Berlim. Sobrevive às três balas com sequelas graves. Uma onda de protesto generalizada atravessa a República Federal durante os dias de Páscoa, as manifestações resultam em confrontos violentos em várias cidades. Estudantes e civis insurgem-se em particular contra a imprensa conservadora que, na sua abordagem, tenta gerar um sentimento negativo da população alemã em relação aos objectivos do movimento estudantil. O jornal de maior tiragem, Bild, declara Dutschke como “inimigo nº 1 “ da Alemanha. Josef Bachmann, autor do atentado contra Dutschke, pertence a uma organização da extrema direita. Viria a suicidar-se em prisão dois anos depois. Dutschke viria a falecer em 1979, ainda em consequência dos ferimentos sofridos.

A situação mantém-se tensa durante o mês de Maio. A coligação entre Democratas Cristãos e Sociais-Democratas sob a chancelaria de Kurt Georg Kiesinger decreta, em resposta à forte oposição estudantil, a chamada Notstandsgesetzgebung - medidas legislativas que, em caso de instabilidade e crise políticas, conferem latos poderes aos órgãos de soberania e restringem determinados direitos do homem fundamentais. A população alemã divide-se, intelectuais como Heinrich Böll recorda decretos semelhantes durante a República de Weimar que possibilitou a ascensão de Hitler ao poder. A oposição estudantil extra-parlamentar vê-se confirmada nos seus receios de que a Alemanha caminha para uma ditadura.

O congresso do partido dos democratas cristãos em Berlim ocidental é palco de um incidente inédito: o chanceler Kiesinger é alvo de uma bofetada em público, dada pela estudante Beate Klarsfeld. A jovem de 29 anos e uma parte significativa da nova geração repudiam altos políticos e funcionários com um passado nazi. O escritor Heinrich Böll oferece um ramo de rosas a Klarsfeld em sinal de solidariedade. Seu colega, Günter Grass, critica o acto afirmando que “tanto não seria necessário”. Kiesinger, membro da NSDAP, exerceu um alto cargo no Ministério dos Negócios Estrangeiros durante os anos quarenta. Explica o seu envolvimento durante o regime de Hitler e sobrevive a esta crise por alguns meses: viria a ser derrotado nas eleições legislativas do ano seguinte.


- CONTINUAÇÃO NA PRÓXIMA SEGUNDA-FEIRA -


Imagens: Maio de 68; Rudi Dutschke; Daniel-Cohn Bendit (um dos líderes de 68, hoje em dia deputado do Parlamento Europeu); Klarsfeld vs Kiesinger

DELENDA GLÓRIA

eis-me solta de todas as amarras
da canga a que forcei o pensamento
de novo imersa nesta pura água
em que me identifico e apresento

limpa dos sulcos de súbitas grades
a que me expus de rosto claro e isento
– medida consciente para a mágoa
que é do tempo sem horas o sustento

de novo as mãos abertas e sem nada
estendidas à ternura do momento
a cada dia pronto que me alaga

de novo tão adulta como o vento
completa dentro desta pura água
por onde me procuram e me ausento

Glória de Sant'Anna
In: Amaranto. Lisboa: Imp. Nac.-Casa da Moeda, 1988, p. 289

Bruxelas - 7


O estilo leopardo já chegou às fachadas.

Um músico que admiro: David Bowie!

David Bowie, David Robert Haywood-Jones, é um músico e actor britânico que admiro pela sua postura e versatilidade!
A sua música nem sempre é fácil de ouvir.
Entrou em filmes como: O homem que caiu na Terra (1975), Fome de Viver (The Hunger), Furyo - Em Nome da Honra (Merry Christmas Mr. Lawrence) e Labirinto - A Magia do Tempo (1986).
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O interesse pelo cenário musical alemão e o vício em drogas fizeram-no mudar para Berlim (1976 e 1980) junto com o seu amigo Iggy Pop. Os dois dividiram um apartamento em Schöneberg.
Os albuns Heroes e Low (1977) revelaram o sentimento da Guerra Fria, simbolizado pela cidade dividida que os inspirou. A música de Bowie que gerou mais covers foi a canção-título do álbum, Heroes contando a história de dois amantes que se conhecem no Muro de Berlim. Neste mesmo ano o compositor minimalista Phillip Glass transformou algumas músicas da tournée em sinfonias.
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Para mim o disco dele mais emblemático foi "Ziggy Stardust"(1972).

"A minha pátria é a língua portuguesa", Fernando Pessoa


III - Os Tempos

Quinto

NEVOEIRO

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a hora!
x x xxxxxValete, Fratres

Fernando Pessoa, Mensagem, Lisboa: Ática, 1979, p. 104.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Praça Tiananmen : Um símbolo / Um sonho

Manoel de Oliveira!

Sobre a morte ouvi isto a Manoel de Oliveira na Grande Entrevista, da RTP1 "Na morte solta-se o espírito"
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...o espírito liberta-se e encontra-se a paz porque o ódio e a inveja acabam com a morte.

Arménio Vieira

Prémio Camões 2009


Lisboa: Caminho, 2001


Lisboa: Vega, 2004

Estes são os únicos livros de Arménio Vieira, escritor cabo-verdiano, galardoado com o Prémio Camões, disponíveis no mercado português. Espero que o prémio lhe divulgue a obra.


QUIPROQUÓ

Há uma torneira sempre a dar horas
há um relógio a pingar no lavabos
há um candelabro que morde na isca
há um descalabro de peixe no tecto.

Há um boticário pronto para a guerra
há um soldado vendendo remédios
há um veneno (tão mau) que não mata
há um antídoto para o suicídio de um poeta.

Senhor, Senhor, que digo eu (?)
que ando vestido pelo avesso
e furto chapéu e roubo sapatos
e sigo descalço e vou descoberto.

http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1384638

CORPO

corpo
que te seja leve o peso das estrelas
e de tua boca irrompa a inocência nua
dum lírio cujo caule se estende e
ramifica para lá dos alicerces da casa

abre a janela debruça-te
deixa que o mar inunde os órgãos do corpo
espalha lume na ponta dos dedos e toca
ao de leve aquilo que deve ser preservado

mas olho para as mãos e leio
o que o vento norte escreveu sobre as dunas

levanto-me do fundo de ti humilde lama
e num soluço da respiração sei que estou vivo
sou o centro sísmico do mundo


Al Berto

Glória de Sant'Anna


Glória de Sant'Anna, retratada por seu filho, Rui Paes.

Glória de Sant’Anna, poetisa moçambicana, faleceu no dia 2 de Junho em Gaia.
«A obra de Glória de Santa’Anna, na sua concentração e densidade, na sua liquidez secreta e cheia de pudor, na sua misteriosa claridade, na sua “mortal” e dominada angústia» (Eugénio Lisboa), consiste em vários livros de poesia e um de crónicas, para além de colaboração diversa em jornais e revistas.

GRAVURA

Aqui estou inteira:
De memória ausente,
Sem fisionomia
- como uma medalha.

Aqui estou inteira
para ser guardada
no fundo do tempo
onde não há nada.


RECADO

Se eu morrer longe
sepulta-me no mar
dentro das algas ignorantes
e lúcidas.

Cobre o meu rosto de palavras
antigas
e de música.

Deixa em meus dedos
a memória mais recente
de outras coisas inúmeras

e nos meus cabelos
o incerto movimento
do vento e da chuva.

Eu vogarei sob as estrelas
com pálidas luzes entre os cílios
e pequenos caramujos
entrarão nos meus ouvidos.

Estarei assim idêntica
a todos os motivos.


In: Amaranto. Lisboa: Imp. Nac.-Casa da Moeda, 1988, p. 51, 57

60 anos de uma nação: 1967

Passados doze anos sobre a primeira visita à Alemanha, o Xá da Pérsia volta novamente a pisar solo germânico, desta vez na companhia de Fahra Diba. O glamour à volta dos imperadores é assolado por uma onda de forte contestação contra o Xá, acusado de dirigir o seu país em regime de tirania e desigualdade social. O protesto contra os soberanos forma-se sobretudo nos meios estudantis que são alvo de agressões de adeptos do Xá e dos serviços secretos persas.
A polícia alemã actua com uma estratégia extremamente agressiva contra os estudantes a favor das visitas oficiais. Os confrontos violentos culminam na morte do estudante Benno Ohnesorg, causada por uma bala disparada por um agente de polícia. O incidente polariza a república e é um dos motivos principais para as revoltas estudantis do Maio do ano seguinte.

A televisão dá um passo decisivo em finais de Agosto: um programa musical popular é transmitido pela primeira vez a cores. Willy Brandt, vice-chanceler e ministro dos negócios estrangeiros, é anfitrião deste momento inovador, ao carregar num botão encarnado. Os (poucos) espectadores que já dispõem de um novo televisor poderão assistir à programação a cores a partir deste momento. A Alemanha Oriental esperaria por esta inovação até 1969.

A mini-saia conquista definitivamente o mundo e, naturalmente ambas as “Alemanhas”. Da autoria da estilista londrina Mary Quant, transporta consigo o espírito dos Swinging Sixties da capital britânica para todo o mundo. Twiggy é incontestavelmente o modelo “chave” da mini-saia. A Alemanha Ocidental faz-se representar pela condessa Vera Gräfin von Lehndorff, mais conhecida por Veruschka.

Imagens: o Xá e sua esposa, na recepção oficial com o Presidente da República Lübke; Benno Ohnesorg; televisão a cores; Vera Gräfin von Lehndorff (Veruschka)

O que estou a ler - 4

Estou a ler o mais recente ensaio do José Gil, publicado no mês passado, e onde o autor continua a sua exploração dos traços distintivos da nossa identidade. Deixo-vos hoje o primeiro dos excertos que escolhi pela sua impressividade:

" (...) Neste sentido a identidade é uma patologia de que o eu é o vírus despótico. Eu uno, unificador e omnipresente. Em tudo, na acção, na fala, nas relações sociais, na vida profissional, no espaço público, nós somos «fulanos de tal», somos pessoais e auto-reflexivos ( ao contrário da criança ou do artista ou artesão, perdidos no objecto e no jogo ) . Somos portugueses antes de sermos homens - eis a doença da hiperidentidade que nos corrói. 2. A nossa falta de confiança, a inércia, a autocomplacência, o queixume e a inveja são pragas nacionais que nos envenenam. Todas decorrem naturalmente do tipo de subjectividade produzida pela doença da identidade. Esta fecha-nos em nós mesmos, impedindo-nos de criar um «fora», ar e vento livres, respiração para viver. " ( p. 10 )

- EM BUSCA DA IDENTIDADE - o desnorte, José Gil , Relógio D' Água Editores.

Blogues - 6 : Lisboa Antiga

- da autoria de José Quintela Soares, e tirada do Lisboa Antiga.

O Lisboa Antiga é o blogue do José Quintela Soares, que ama e se preocupa com a nossa capital. Passeia muito por ela, e faz o registo fotográfico do que lhe vai chamando a atenção, não só o pitoresco, mas também os problemas já crónicos da cidade: a degradação do edificado, a falta de higiene e a falta de segurança. Vale a pena espreitar em http://www.lisboantiga.blogspot.com

A " Casa do Crime "











Esta é a Greenway House, em Devon, a casa de férias de Agatha Christie durante 20 anos, estando hoje na posse dos seus descendentes. Descendentes estes que decidiram agora abrir ao público as portas da casa para visitas de quarta a domingo. Os belos jardins, o cais e a parte rural da propriedade já eram visitáveis porque foram doados pela família ao National Trust em 2000.




O 5º Cavaleiro do Apocalipse... - 1

Novidades - 51 : Curlândia

Interessou-me este livro porque trata de um país que sempre quis conhecer. Um país que há muito que não é um estado, e que foi vítima de muitos estados. A Curlândia, hoje parte da Letónia, foi uma zona-tampão entre o mundo germânico e o mundo eslavo, e sucessivamente ocupada por polacos, suecos, russos e cavaleiros teutónicos, tendo estes construído centenas de castelos cuja maioria está hoje em ruínas. Todos os povos que quiseram dominar as terras bálticas ocuparam a Curlândia, e de todas as vezes o sonho frustrou-se, mais recentemente com o desabar da União Soviética, última grande potência báltica.

- Courlande, Jean-Paul Kauffmann, Fayard, 287 p. , Abril de 2009 , 19,50€.
Não nos iludamos. Ou nos salvamos nós, ou ninguém nos salva.
Manuel Laranjeira

Bruxelas - 6



Se vier para Portugal, manterá o nome?



Loja de mobiliário.

Desassossego 2!

Do desassossego, da liberdade e do destino...


"A liberdade é a possibilidade do isolamento. És livre se podes afastar-te dos homens, sem que te obrigue a procurá-los a necessidade do dinheiro, ou a necessidade gregária, ou o amor, ou a glória, ou a curiosidade, que no silêncio e na solidão não podem ter alimento. Se te é impossível viver só nasceste escravo. Podes ter todas as grandezas de espírito, todas da alma: és um escravo nobre, ou um servo inteligente: não és livre. E não está contigo a tragédia, porque a tragédia de nasceres assim não é contigo mas do Destino para si somente."
Bernardo Soares, Livro do Desassossego, Lisboa: Assírio & Alvim, 1998, p. 272-273

Os Pecados de Todos em Múltiplo!

Hoje recebi de uma editora o lançamento deste livro com o poema que transcrevi. Não conheço o poeta Luís Silva mas os seus gostos e o poema fazem-me crer que vou gostar. Já conhecem?
A preguiça, o pior dos males, é às vezes uma companhia...

"a preguiça reconheço agora
é a amante mais bela da minha solidão
a preguiça são os olhos vazios em terras extensas
a preguiça floresce nas esplanadas
com aqueles cinzeiros com poemas
que roubam aos lábios a incerteza
a preguiça é abril no inverno
a preguiça lembra um torpor prolongado e lindo
a preguiça hipnotiza como os gatos
a preguiça é esplendorosa como as árvores"



Luís Silva nasceu em Lisboa em 1960 e morreu vítima de doença prolongada a 15 de Dezembro de 2007. Cursou Filosofia nos anos 80 e interessava-se pela literatura em geral. Os seus autores favoritos eram Herberto Helder e Al Berto. Deixou alguns livros de poesia que a pouco e pouco se irão gradualmente publicando, a título póstumo.

Filipe Balestra, Um jovem arquitecto!

Filipe Balestra, um português de 27 anos, é um jovem promissor que ao fazer o master em Arquitectura, em Estocolmo, apresentou um projecto inovador. Decidiu fazer como trabalho de fim do curso o projecto de uma escola na “Rocinha”, a maior favela do Rio de Janeiro. Chamou de Sambarquitectura. Este seu trabalho serviu de ponte para ser convidado pela Sparc (Organização Não Governamental indiana), que actua em bairros de lata, para construir uma “vila” para 1200 famílias na Índia com soluções baratas.
Filipe Balastro nasceu e viveu no Rio de Janeiro até aos quatro anos de idade.

Procurou no Google duas ou três organizações não governamentais que trabalhassem em favelas e encontrou o Instituto Dois Irmãos. Este instituto acolheu bem a ideia do jovem. Partiu para o Brasil e estava preparado para desenhar quando compreendeu que ninguém tinha interesse pelos seus desenhos. A comunicação em papel não era importante naquele local mas sim a comunicação oral. Apresentou o trabalho final em vídeo com algum receio da comunidade científica Sueca. Juntou a este suporte maquetas, embora, o trabalho fosse essencialmente o filme de trinta minutos. No filme está retratado o modo de vida e a melhor forma de adaptar a construção da escola num ambiente tão específico como o de uma favela. É notável o empenho, o espírito de inovação e a aventura deste jovem que pegou na mala e partiu para um meio tão adverso. O novo projecto que agarrou foi a reconstrução profunda de um bairro da lata em Pune, a 200 Km de Bombaim.

Fotografia de Filipe BalestraIncremental Housing Strategy in India by Filipe Balestra & Sara Göransson

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Porque MR me fez recordar...

Retrato de Fernando Pessoa feito por João Luiz Roth

...E porque sou apaixonada por Fernando Pessoa...
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SINFONIA DE UMA NOITE INQUIETA
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Dormia tudo como se o universo fosse um erro; e o vento, flutuando incerto, era uma bandeira sem forma desfraldada sobre um quartel sem ser.
Esfarrapava-se coisa nenhuma no ar alto e forte, e os caixilhos das janelas sacudiam os vidros para que a extremidade se ouvisse. No fundo de tudo, calada a noite era o túmulo de Deus (a alma sofria com pena de Deus).
E, de repente - uma nova ordem das coisas universais agia sobre a cidade - o vento assobiava no intervalo do vento, e havia uma noção dormida de muitas agitações na altura. Depois a noite fechava-se como um alçapão, e um grande sossego fazia vontade de ter estado a dormir.
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Bernardo Soares, Livro do Desassossego, Lisboa: Assírio & Alvim, 1998, p. 68.

Museu Horta




A casa e o atelier do arquitecto Victor Horta foram construídos entre 1898 e 1901, de acordo com as suas concepções: o equilíbrio de diferentes volumes, jogos de luz, variações de nível e de perspectiva. Horta faz-nos descobrir «uma arquitectura musical nascida da harmonia entre forma, material e cor.»
http://www.hortamuseum.be/
Rue Américaine, 25
Bruxelas

Foi difícil dar com esta casa-museu - ninguém sabia onde ficava e mesmo em Saint-Gilles, o bairro onde se situa, ninguém conhecia o museu nem a rua.