Prosimetron

Prosimetron

sábado, 5 de julho de 2008

O FESTIVAL DE ÓPERA DE MUNIQUE



A temporada de ópera de Munique termina tradicionalmente com os Münchner Opernfestspiele - o festival de ópera, cujos primórdios remontam ao ano de 1875.
A edição de 2008 decorre em três locais belíssimos, na Ópera Estadual da Baviera (Bayerische Staatsoper, foto), situada na zona mais nobre da cidade, no Prinzregententheater e no recém-restaurado Cuvilliés-Theater, pérola do estilo rococó bávaro. A direcção artística está, pela segunda vez, a cargo de Kent Nagano. A orquestra e o coro da Ópera Estadual acompanham o festival ao longo das próximas cinco semanas.

A oferta é de uma riqueza única: ópera, ballet, concertos e recitais de Lied farão deste festival mais um acontecimento inesquecível, consolidando assim a posição de Munique como capital cultural da Alemanha. À luz do que nos habituámos em Lisboa nos últimos anos (ou do que fomos obrigados a habituar-nos …), a programação de Munique parece invejável, quase surrealista.

O festival inaugurou a 28 de Junho com um ex-libris do século XX, a ópera Doktor Faust de Ferruccio Busoni. Busoni iniciou a composição em 1916, deixando-a incompleta até à sua morte em 1924, concluída por alunos seus. Ao contrário de Gounod que recorreu à obra de Goethe, o compositor redigiu o libretto a partir da velha lenda popular à volta de Fausto. Entenderam os organizadores, e muito bem, proporcionar ao público um amuse-gueule delicioso ao exibir o filme Faust – Eine deutsche Volkssage de Friedrich W. Murnau de 1924 no passado dia 24 de Junho numa igreja no centro da cidade.

Outras produções novas incluem Eugen Onegin de Tschaikowsky, Nabucco de Verdi com Maria Guleghina como Abigaille ou Die Bassariden de Hans Werner Henze.
Idomeneo de Mozart sobe ao palco no Cuvilliés-Theater e regressa assim à casa onde se estreou em 1781.

Mas o repertório não se esgota por aqui, e o rol de artistas convidados assegura os padrões de qualidade de que o festival é sinónimo: Vesselina Kasarova brilha no Werther de Massenet; Ramón Vargas interpreta Alfredo Germont em La Traviata e Rodolfo em Luisa Miller de Verdi; o tenor alemão Will Hartmann que nos encantou no S. Carlos por diversas vezes (refira-se o Loge do Anel em 2006!) encanta em Munique como Matteo em Arabella de Strauss.

Continuemos: Waltraud Meier, considerada a melhor meio-soprano da actualidade, encarna Isolde ao lado de John Treleaven, seu Tristan.
A já mítica Edita Gruberova apresenta-se ora como Elisabetta em Roberto Devereux de Donizetti ora como Norma de Bellini. Fantástico!

Ariadne auf Naxos e Elektra de Strauss, Tamerlano de Händel ou Così fan tutte de Mozart entram igualmente na “corrida” das jornadas.

O Lied faz-se representar dignamente através de recitais com Dorothea Röschmann (o programa inclui, entre outras obras, Des Knaben Wunderhorn de Mahler), Ian Bostridge e Jonas Kaufmann, já anteriormente aqui apresentado pelo João Mattos e Silva.

Num concerto de gala, Kent Nagano dirigirá Karita Mattila e Thomas Hampson num serão dedicado a obras de Tschaikowsky, Verdi e Cole Porter.

O festival encerra a 31 de Julho com os Mestres Cantores.

Invejar os poetas

" Pensava que uma das poucas qualidades que tinha era a ausência de inveja. Não é verdade. Invejo os poetas. O que eu queria mesmo, o que mais queria neste mundo, o que mais desejava mas não tenho talento, era ser poeta. Até aos dezanove, vinte anos, só escrevi poemas . Descobri que eram maus, que não era capaz, que me faltava o dom. Foi um achado tremendo para mim, a certeza que a minha vida perdera o sentido. E então, aflito, desesperado, a medo, comecei a tentar outra coisa, porque não me concebia sem uma caneta na mão. Nunca fiz contos, nem diários, nem teatro, nem ensaios e contar lérias não me interessava. Interessava-me transferir o mundo inteiro para o interior das capas de um livro. E cheio de hesitações, recuos, influências, a certeza que ainda não era aquilo, ainda não era aquilo, dei início a este fadário. Resignado com a minha ausência de talento para me exprimir em verso. Nos primeiros tempos ainda experimentei, ocasionalmente, redigi uns poemas: eram horríveis. Então conformei-me. (...) "

- António Lobo Antunes, Morto cobrido de amor , VISÃO , 3 de Julho de 2008

Cocteau noutra vertente

Aproveitando a efeméride lembrada pelo João Mattos e Silva, aqui fica esta imagem da última obra de Jean Cocteau, esse génio versátil : a Capela de Nossa Senhora de Jerusálem, em Fréjus .

Jean Maurice Eugène Cocteau (Maisons-Lafitte, 5 de julho de 1889 — Milly-la-Forêt, 11 de outubro de 1963)


Citações

"Confusa época em que os museus se transformam em igrejas e igrejas em museus"

"A poesia é uma religião sem esperança"

"Ninguém ignora que a poesia é uma solidão espantosa, uma maldição de nascença, uma doença da alma"

"Para o poeta a maior tragédia é se o admiram porque não o entendem"

"O poeta é uma mentira que diz sempre a verdade"

"O limite extremo da sensatez é o que o público baptiza de loucura"

"Os jovens adoram desobedecer. Mas, actualmente, não há mais ninguém para lhes dar ordens"

"As leis morais são as regras de um jogo no qual todos fazem batota, e isto desde que o mundo é mundo"

"O que o público reprova em ti, cultiva-o: é o que és"

A IMPERFEIÇÃO DA FILOSOFIA - 2

" (...) O ritual da caixa no filme Dune de David Lynch oferece-nos deste sofrer por ser, sofrer por conhecer-se como carne, desta resistência da carne a ser apenas carne, uma percepção terrível e exaltante : o jovem eleito coloca a mão direita, por uma abertura lateral, dentro de uma caixa, sabendo que o que está lá dentro se chama dor. A pouco e pouco sente uma ligeira comichão, que se torna cada vez mais insuportável até se transformar em sensação de queimadura, primeiro vê a sua pele a crestar, depois vê bocados da mão a cair. Visões da dor que ele experimenta e que terá de vencer, se não será ela a vitimá-lo. E isso é o que o corpo não deseja e é isso o que o corpo mais teme, e por isso o nihilismo ronda infalivelmente - e por isso sejam louvados os que resistem ao seu império - aqueles que estudam a nossa carne . "

- Maria Filomena Molder, Princípios de método-1 , in A IMPERFEIÇÃO DA FILOSOFIA , Relógio D'Água Editores, 2003, 107.

PENSAMENTO DO DIA

O mal não deve ser imputado apenas àqueles que o praticam, mas também àqueles que poderiam tê-lo evitado e não o fizeram.

- Tucídides

Grandes filmes (esquecidos?): 9 - Sweet Bird of Youth


"Sweet Bird of Youth" está naquela fronteira temporal que marca o fim da minha "era dos filmes que valia a pena ver"; depois de 1960 para mim passaram a contar-se pelos dedos das mãos os grandes filmes (e.g., "The Lion in Winter", "The Sound of Music", "My Fair Lady"), até os anos 80 voltarem a iluminar os écrans.

"Sweet Bird of Youth" é de 1962; realizado por Richard Brooks e produzido por Pandro S. Berman, é uma adaptação de uma peça de Tennessee Williams. O enredo gira em torno a Chance Wayne, um jovem meliante (interpretado por Paul Newman), que regressa à sua terra natal à procura da namorada de juventude, a sua grande paixão (Heavenly, interpretada por Shirley Knight). Mas o jovem não vem sozinho - vem como acompanhante de uma estrela de cinema em declínio, Alexandra del Lago, aliás princesa Kosmonopolis (Geraldine Page, esplendorosa na sua decadência de estrela esquecida). Rapidamente se revela que Chance tinha sido expulso pelos poderes da cidade, cuja eminência máxima é o pai de Heavenly. Os antigos rancores não estavam enterrados e regressam with a vengeance, perante o olhar da Princesa que sustenta o jovem Chance... até um ponto. O final é Hollywoodesco, o que é uma pena - a crueza do final da peça é muito mais... inesquecível.
"Sweet Bird of Youth" foi nomeado para 3 Óscares (incluindo Melhor Actriz e Melhor Actriz Secundária), tendo conquistado Melhor Actor Secundário para Ed Begley, que faz de pai de Heavenly. Geraldine Page ganhou o Globo de Ouro de Melhor Actriz (e Newman foi nomeado para Melhor Actor).

SUGESTÃO DO DIA

MÚSICA AO LARGO - Concerto no Largo de S. Carlos , pela Orquestra Sinfónica Portuguesa e o Coro do Teatro Nacional de S. Carlos, às 22h.
Programa : Aaron Copland, Samuel Barber, Morton Gould e George Gershwin.

Eisner Awards '08 - 25 de Julho


Os principais prémios da indústria norte-americana serão atribuídos a 25 de Julho, como habitualmente na Convenção de San Diego. Este ano, as nomeações são lideradas pela DC Comics (11 nomeações mais 6 partilhadas), pela Dark Comics (12 + 4) e pela Marvel (11 + 2).
Em termos de autores, há cinco artistas com quatro nomeações, incluindo Brian K. Vaughan (por Y the Last Man e Buffy the Vampire Slayer Season Eight) e Joss Whedon (igualmente por Buffy the Vampire Slayer Season Eight, Astonishing X-Men e o online Sugarshock!).
PS - O nome dos prémios é uma homenagem ao criador do "The Spirit"

Filmes proibidos: Superstar


"Superstar: the Karen Carpenter Story" data de 1987, sendo o segundo filme assinado por Todd Haynes (o realizador de "Far from Heaven/Longe do Paraíso", "Safe", "Velvet Goldmine", "Poison" e, mais recentemente, "I'm not there", o biopic de Bob Dylan).

É um filme que não se pode ver: em 1990, Richard Carpenter garantiu legalmente a sua proibição, por não terem sido garantidos os direitos às canções dos Carpenters que são parte integrante do filme. Os mentideros são mais agressivos, indicando como razões mais próximas a péssima imagem que dão da família Carpenter e da sua influência na morte de Karen aos 32 anos.

Com 43 minutos, o filme é interpretado em grande parte por bonecas Barbie e Ken (facto que segundo os mesmos mentideros, levaria a Mattel a pedir a proibição do filme, mesmo que Richard Carpenter fracassasse na sua intenção), em cenários de miniaturas hiper-detalhadas. O filme é brutal: a título de exemplo, a decisão de lançar Karen na música é apresentada como uma decisão de família para ajudar as ambições de Richard; a reunião com o editor é intercalada com imagens do Holocausto; a dissecação da anorexia nervosa de que Karen padecia é esmiuçada sem qualquer pudor (e torna-se macabramente o personagem principal), com o emagrecimento grotesco da boneca Barbie-Karen a servir de mote; a pressão da família é profundamente sufocante. "Do the Carpenters have something to hide?" pergunta a dada altura Karen ao irmão. Em simultâneo, a banda sonora vai presenteando o espectador com a suavidade das canções dos Carpenters interpretadas por Karen -- e outras canções dos anos 70 (Dionne Warwick -- que tem direito à sua Barbie --, Elton John, ...). Tudo isto sendo dito, é um filme que cria uma simpatia profunda, um enorme carinho por Karen Carpenter, comovente e inesperado, dado o uso algo patético de Barbies e Kens.

Em 2003, a Entertainment Weekly considerou-o um dos 50 filmes de culto da história do cinema. É possível ver excertos no YouTube (por enquanto) e o integral está em Google Movies (por enquanto) em http://video.google.com/videoplay?docid=622130510713940545

Quanto à proibição legal, recordou-me a frase de Akira Kurosawa, "To be an artist means never to avert your eyes."

Les soldats de l'éternité



Até 14 de Setembro 2008, na Pinacothèque de Paris pode-se contemplar uma exposição excepcional que tem origem numa das mais fascinantes descobertas arqueológicas do século XX: Os Guerreiro de Xi’an.
Os legionários, em terracota, “guardavam” o mausoléu do primeiro imperador da China – Dinastia Qin (pronuncia-se Tsin) 221-206 aC. – que unificou o seu vasto território.
A Exposição já passou por Roma e por Londres. A não perder.

Voltaire: que fluido desconhecido é esse?

[...]
"O cérebro, que se julgava ser a sede do entendimento, foi tão violentamente atacado como o coração, o qual é, dizem, a sede das paixões.
Que mecânica incompreensível submeteu os órgãos ao sentimento e ao pensamento? Como é que uma simples ideia dolorosa é capaz de perturbar a circulação do sangue? E como é que o sangue, por vezes, leva todas estas irregularidades ao entendimento humano? Que fluido desconhecido é esse, cuja existência é certa, que mais rápido, mais activo do que a luz voa em menos tempo do que um pestanejar de olhos por todos os canais da vida, produz as sensações, a memória, a tristeza ou a alegria, a razão ou a vertigem, lembra com horror o que se quer esquecer e tanto faz de um animal pensante um objecto de admiração como um motivo de piedade e de lágrimas. " [...]
Voltaire [François-Marie Arouet], L'Ingénu, © 1767

[ed. portuguesa: O Ingénuo, trad. João Gaspar Simões, Lisboa, Ulmeiro, 1999, pp. 105-106]

João Rui: ir pelo mais largo


Ir pelo mais largo

Eu sonho-me eu sobro-me eu excedo-me.
Jamais permitirei que me aparafusem
à parede das restrições. Jamais me coibirei
de colorir com as cores mais vivas os vidros
interiores. Jamais impedirei a explosão
contínua de mim mesmo (ou seja: de todo
o granito que aí se acoite).

Irei pelo mais largo
pela máxima amplitude de voz
e de palavras, pelos horizontes
mais fundos e verdejantes,
pelo sagrado voo e pelas pastagens
de uma excelsa ciência:
a de nada trair de essencial
à possível harmonia do mundo,
e à mais fraterna visão libertária.

João Rui de Sousa

(In: Quarteto para as próximas chuvas, Lisboa: Dom Quixote, 2008, p. 140)

sexta-feira, 4 de julho de 2008

A propósito de santos portugueses

Já que se falou da Rainha Santa, aqui fica uma notícia recente sobre o Santo Condestável :
"O alegado milagre já foi criticado no interior da Igreja Católica como frágil, mas a Congregação da Causa dos Santos (CCS) apresentou-o ao Papa Bento XVI e este autorizou o decreto que permite a canonização do Condestável Nuno Álvares Pereira : Guilhermina de Jesus, sexagenária de Vila Franca de Xira, sofreu lesões no olho esquerdo com salpicos de óleo a ferver quando estava a fritar peixe. Por intercessão do Condestável, a mulher ficou curada, versão confirmada por médicos de Portugal e da CCS como cientificamente inexplicável. (...) De acordo com um comunicado da Sala de Imprensa da Santa Sé, citado pela Ecclesia, o cardeal português Saraiva Martins, que preside á CCS , apresentou ontem ao Papa os decretos que reconhecem o milagre. O processo para proclamar o « santo condestável» - como é já reconhecido popularmente - foi reaberto em 2004 pelo Patriarcado de Lisboa e pela Ordem do Carmo.(...) "
- António Marujo, PÚBLICO , 4 de Julho de 2008

Grandes filmes (esquecidos?): 8 - Mildred Pierce


"Mildred Pierce" é um drama / film noir de 1945. Realizado por Michael Curtiz (o mesmo de muitos filmes de aventuras de Errol Flynn, como "Captain Blood", "O Gavião dos Mares" ou "As Aventuras de Robin dos Bosques", e "Casablanca"), é o primeiro filme interpretado por Joan Crawford na Warner, depois de sair da MGM.

O filme é narrado por Mildred Pierce (Joan Crawford), começando com um homicídio: a última palavra proferida pelo morto é... "Mildred...". O morto é o segundo marido desta Mildred Pierce, que é presa pela polícia - origem de uma sequência em flashback, que narra a vida difícil da protagonista. Com um casamento infeliz, divorcia-se e fica com a custódia das duas filhas; o único emprego que consegue é de empregada de mesa, facto que esconde da filha mais velha, Veda (Ann Blyth), mimada e que considera ter direito a ver todos os seus caprichos satisfeitos pela mãe. Com muito esforço, Mildred abre o seu próprio restaurante e começa a ter algum sucesso - marcado pela tragédia da morte por doença da filha mais nova. Veda passa a ser o ponto fulcral da vida de Mildred; no entanto, a filha tem tanta vergonha do passado da mãe que Mildred contempla casar pela segunda vez para subir socialmente. Resulta mal; o segundo marido e a filha conspiram... O segundo marido revela-se uma sanguessuga e Mildred perde o seu negócio. O final é digno do melhor noir.

"Mildred Pierce" obteve seis nomeações para os Óscares da Academia, tendo Joan Crawford conseguido o seu primeiro (e único) prémio.

A IMPERFEIÇÃO DA FILOSOFIA - 1

" (...) Sendo necessário, para que o pensamento não se arruine, que a cada nome corresponda uma coisa, que cada nome signifique uma coisa - no caso de significar várias, deve explicar-se a qual delas nos estamos a referir - , a que coisa corresponde o nome « homem » ? Entre os Gregos, e em particular para Aristóteles, a palavra « homem » correspondia a várias coisas, todas procurando-se recíprocamente : o homem é um vivo, um animal, que tem a vocação de falar e de pensar, e é um vivo que tem a vocação de viver entre iguais , procurando o seu bem comum, entre os mais próximos, os amigos, e, entre os menos próximos, a associação política. Mas também é aquele que se sabe sujeito à morte, aquele que tem a antecipação de uma experiência que não pode ser transformada nem em representação nem em argumento.
Esta última determinação é a que interroga as outras, é a ela que a medida, a proporção, está prometida. (...) "


- Maria Filomena Molder , Querer dizer , in A IMPERFEIÇÃO DA FILOSOFIA , Relógio D'Água Editores, 2003 , 42-43 .

SUGESTÃO DO DIA


Djavan, Coliseu dos Recreios, Lisboa, às 22 horas .

L.B.


Louis B. Mayer, nascido a 4 de Julho de 1884, faleceu a 29 de Outubro de 1957. Co-fundador da Metro-Goldwyn-Mayer, os estúdios de cinema de Hollywood, é muitas vezes indicado como criador do "star system" e a sua aposta era que a MGM tivesse "more stars than there are in the heavens". E que estrelas: o rol deixaria qualquer firmamento feliz - Greta Garbo, Joan Crawford, Clark Gable, Spencer Tracy, Katharine Hepburn, Norma Shearer, Lon Chaney, Jean Harlow, Judy Garland, Debbie Reynolds, Leslie Caron, John Gilbert, William Haines, Buster Keaton, William Powell, Myrna Loy, Robert Taylor, Wallace Beery, Jeanette MacDonald, Nelson Eddy, John Barrymore, Lionel Barrymore, Fred Astaire, Gene Kelly, Elizabeth Taylor, Frank Sinatra, Johnny Weissmuller, Charles Laughton, os irmãos Marx, Luise Rainer, Robert Donat, Greer Garson, Lana Turner, Leslie Howard, Rosalind Russell, Paulette Goddard, Tyrone Power, George Cukor, King Vidor, Clarence Brown, Eric von Stroheim, Tod Browning, Victor Seastrom. Abençoada a visão de Billy Wilder e a reminiscência imaginária de um passeio pelos estúdios da MGM ao som de "As If We Never Said Goodbye" (a Paramount que me perdoe o abuso).

"His MGM was a film factory, with stars as assembly-line workers and a hit formula: chaste romance, apple pie and Andy Hardy.
He was the master manipulator, and it was generally acknowledged that of all the great actors on the lot — the Barrymores, Spencer Tracy, Lon Chaney, Garbo — L.B. was No. 1. When Robert Taylor tried to hit him up for a raise, L.B. advised the young man to work hard, respect his elders, and in due time he'd get everything he deserved. L.B. hugged him, cried a little and walked him to the door. Asked, "Did you get your raise?" the now tearful Taylor is said to have answered, "No, but I found a father."

in Time, 100 Builders and Titans, Dec. 7, 1998

"São rosas, senhor..."


A Rainha Santa Isabel faleceu a 4 de Julho de 1336. Nascida princesa de Aragão em 1271, foi consorte do Rei D. Dinis, tendo sido particularmente interventiva na gestão da nação. Apaziguadora de humores, interveio no conflito entre D. Dinis e o futuro Afonso IV (há no Arco do Cego um marco de pedra branca assinalando onde os exércitos de ambos se encontraram, e onde a paz entre pai e filho foi promovida). Conhecida pelo milagre das rosas, ficou na história mundial como Santa Isabel de Aragão (ah pois é).

Para leitura do papel que desempenhou, recomendo vivamente "D. Dinis e Santa Isabel", por Mário Domingues, pela Prefácio, ou "Dos Templários à Nova Demanda do Graal", de Paulo Alexandre Loução, pela Ésquilo, mais curioso na vertente do misticismo nacional.

Frederico Lourenço: pôr-me a nu

A propósito das declarações de Manuela Ferreira Leite, na TVI, no dia 2 de Julho de 2008, recordo a corajosa crónica de Frederico Lourenço:

"Pôr-me a nu
A correspondência comovente que tenho recebido de leitores anónimos a propósito do meu livro, A Máquina do Arcanjo, tem-me levado a reflectir sobre alguns aspectos curiosos da nossa lusitana Arcádia no que toca a atitudes convindas face à homossexualidade masculina. Tanto mais que estes leitores desconhecidos, na sua vontade de exprimirem reconhecimento pelo facto de a minha escrita dar voz aos seus sentimentos e desgostos de amor, contrastam, no seu posicionamento em relação ao tema do carisma amoroso exercido no homem pelo próprio homem, com muitos amigos e conhecidos meus, intelectuais e artistas que comigo partilham a vulnerabilidade ao referido carisma; amigos esses que me têm questionado sobre a proficuidade (ou mesmo elementar prudência) de eu estar a dar visibilidade àquilo que, para comodidade (não direi "bem") de todos, mais valia ficar invisível.
Parece que se estabeleceu uma espécie de dogma, no actual discurso português sobre a homossexualidade, segundo o qual apenas duas atitudes públicas são admissíveis: ou vociferar a reivindicação do casamento e da adopção gay, ou então optar, pura e simplesmente, pelo silêncio. Anglófilo, como é meu apanágio desde sempre, sinto uma certa nostalgia da "naturalidade" com que o tema é abordado na imprensa britânica inteligente: refiro-me ao Observer, ao Independent e - surprise! - ao Financial Times. Neste último jornal, reduto (pensar-se-ia) de atitudes empedernidas da direita mais conservadora, qual não é o nosso lusitano espanto ao vermos jornalistas como Rahul Jacob referirem-se no mais natural dos tons à sua não-heterossexualidade, já para não falar do Spectator, outra publicação conservadora, onde pontifica Philip Hensher, em relação ao qual todos sabemos, pelas leituras das suas crónicas, que ele (por exemplo) prefere cerveja a vinho, gosta de pintura setecentista e vive com um simpático namorado francês chamado Laurent.
Pela minha parte, não me sinto bem com nenhum dos extremos actualmente admissíveis (confortáveis?) em Portugal. Sem querer ofender nem negar os direitos de ninguém, tenho de reconhecer que a minha educação na fé católica (em que creio mas não pratico) dificulta, no íntimo do meu espírito, a adesão sincera à reivindicação da família gay legalmente constituída (friso que se trata de uma posição absolutamente pessoal, de consciência religiosa: não quero com ela pôr em causa as aspirações, muito menos a felicidade, de homens e mulheres que desejam legitimamente um enquadramento legal para uniões com pessoas do mesmo sexo, quando mais não seja para efeitos de doação testamentária de património). Por outro lado, a manutenção do histórico silêncio, pactuar com a tão cómoda invisibilidade, também me causa enormes problemas de consciência. Há amigos que me vêm dizer que a pressão de "assumir", de sair do armário, já é uma forma de discriminação homofóbica, já que ninguém pede a heterossexuais que se assumam como tal. A minha experiência pessoal pelo contrário, tem-me ensinado que assumir é pelo menos em certos meios, uma forma de manietar a homofobia.
Não querendo transpor a minha vivência universitária para outros meios, decerto mais hostis, posso dizer, não obstante, que a clarificação pública da minha sexualidade trazida, a partir de 2002, pela publicação dos meus livros veio dar-me uma imagem extremamente positiva da minha faculdade, que, já desde os meus tempos de estudante, eu imaginava muito mais homofóbica. Colegas que eu via facilmente a cortar relações comigo se "soubessem" fizeram, para meu espanto, um esforço pronunciado para me mostrarem abertura e simpatia. Pessoas que eu imaginava a evitar-me doravante e a virar-me a cara nos corredores tornaram-se minhas amigas. Os dois catedráticos, já de idade mais avançada, os "papões" cuja reacção eu mais temia, passaram a desempenhar na minha vida académica um papel protector e paternal. Sei que não posso transpor o ambiente da Faculdade de Letras para uma sucursal da Caixa Geral de Depósitos ou para uma esquadra da GNR, mas quero afirmar a despeito disso que, para além do efeito positivo que a minha exposição pública (tão criticada por amigos homossexuais...) parece ter nos leitores que me escrevem, o efeito positivo em mim próprio, na minha maneira de me relacionar com o mundo profissional no qual estou inserido, não podia ter sido melhor.
Aos amigos que questionam a proficuidade de me "expor"; respondo o seguinte: não deverá ser-vos assacada a vocês, homossexuais que nunca dão nas vistas e homens normalíssimos na vossa vida normalíssima, a responsabilidade por muitos dos equívocos que alimentam a homofobia?"
Frederico Lourenço
In Valsas nobres e sentimentais : crónicas, Lisboa, Cotovia, 2007, pp. 15o-153

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Um Centenário que passa!


Adolfo Casais Monteiro nasceu no Porto em 4 de Julho de 1908. Em 1954 emigrou para o Brasil, onde faleceu em 24 de Julho de 1972.

Céus em fogo

Um corpo, certamente. Mas que é um corpo?
Boca, seios, coxas, sexo,
um sorriso, a mão que afaga, voz?
Que trevas, quais trevas,
de esquecer ou ir tão fundo
quando o desprender-se da alma abre
nas portas da luxúria os céus em fogo?

(De O estrangeiro definitivo, 1969, incluído nas Poesias completas, Lisboa, Imp. Nacional-Casa da Moeda, 1993)

Grandes filmes (esquecidos?): 7 - Suddenly, Last Summer


"Suddenly, Last Summer/Bruscamente, no Verão Passado" é um filme de 1959, baseado na peça homónima de Tennessee Williams, com argumento deste e de Gore Vidal. A realização esteve a cargo de Joseph L. Mankiewicz, com interpretações de Katharine Hepburn, Montgomery Clift e Elizabeth Taylor.
Violet Venable (Hepburn) é uma matriarca rica cujo filho único (e a luz dos seus olhos) morrera bruscamente no Verão passado, enquanto passava férias acompanhado da sua prima Catherine (Liz Taylor). Mrs. Venable contacta um neurocirurgião, contando-lhe a história da sobrinha: no seguimento dessas férias, Catherine enlouquecera; está num asilo; precisa de uma lobotomia para ficar calma. A história que vai desfiando é incontornavelmente a do filho, Sebastian "My son Sebastian and I", dos seus poemas (apenas escrevia um, um cada Verão) que a mãe quer imortalizar, do calor opressivo da estufa de plantas carnívoras, das narrativas de viagem (a terrível descrição das tartarugas recém-nascidas que corriam para o mar e eram devoradas no caminho), todos os Verões, sempre com Violet... excepto no Verão passado. A mãe e o irmão de Catherine cedem à pressão de Violet, cujo testamento é uma poderosa moeda de troca; resta Catherine, cujas incoerências sobre a morte do primo levam Violet a querer... acalmá-la. O filme galopa para um climax quando Catherine, sob o efeito de medicamentos, recorda perante o médico e a família o que se passou nesse Verão, em Cabeza de Lobo... sob um rosto de Violet que se vai transformando e descontruindo à medida que a narrativa se conclui.
O filme foi um dos Top 10 do box office norte-americano; foi nomeado para 3 Óscares, incluindo Katharine Hepburn e Elizabeth Taylor para Melhor Actriz (igualmente nomeadas para os Globos de Ouro de Melhor Actriz, arrebatado por Taylor).

PENSAMENTO DO DIA

Por mais absurdo que o mundo te possa parecer, nunca esqueças que, pelo teu modo de agir ou de não agir, contribuis para esse absurdo.

- Arthur Schnitzler

Uma má notícia

A TAP anunciou ontem que poderão começar a ser usados telemóveis a bordo dos seus aviões. Lá se vai o sossego das viagens. Os aviões eram praticamente os últimos redutos em que os telemóveis não estavam ligados , e sempre se podia aproveitar o tempo de viagem para dormir, ler, ou qualquer outra actividade a bordo que não perturbe o vizinho do lado. Imagine uma viagem com um utilizador compulsivo ao seu lado...

Uma boa notícia

Ingrid Betancourt finalmente libertada, após seis anos de cativeiro nas mãos das FARC. A sua libertação, juntamente com mais 14 pessoas, ocorreu na sequência de uma operação de militares colombianos que se fizeram passar por guerrilheiros e conseguiram libertar os reféns. Segundo parece, sem derramamento de sangue. Um milagre na selva colombiana.

ironia eleitoral

http://www.youtube.com/watch?v=FiQJ9Xp0xxU

quarta-feira, 2 de julho de 2008

NAOMI WOLF - Fascist America, in 10 easy steps

Concorde-se ou não, Naomi Wolf é incontornável nas críticas à Administração Bush. Aqui fica a visão dela sobre os perigos de uma deriva fascista dos Estados Unidos :


Last autumn, there was a military coup in Thailand. The leaders of the coup took a number of steps, rather systematically, as if they had a shopping list. In a sense, they did. Within a matter of days, democracy had been closed down: the coup leaders declared martial law, sent armed soldiers into residential areas, took over radio and TV stations, issued restrictions on the press, tightened some limits on travel, and took certain activists into custody.

They were not figuring these things out as they went along. If you look at history, you can see that there is essentially a blueprint for turning an open society into a dictatorship. That blueprint has been used again and again in more and less bloody, more and less terrifying ways. But it is always effective. It is very difficult and arduous to create and sustain a democracy - but history shows that closing one down is much simpler. You simply have to be willing to take the 10 steps.

As difficult as this is to contemplate, it is clear, if you are willing to look, that each of these 10 steps has already been initiated today in the United States by the Bush administration.

Because Americans like me were born in freedom, we have a hard time even considering that it is possible for us to become as unfree - domestically - as many other nations. Because we no longer learn much about our rights or our system of government - the task of being aware of the constitution has been outsourced from citizens' ownership to being the domain of professionals such as lawyers and professors - we scarcely recognise the checks and balances that the founders put in place, even as they are being systematically dismantled. Because we don't learn much about European history, the setting up of a department of "homeland" security - remember who else was keen on the word "homeland" - didn't raise the alarm bells it might have.

It is my argument that, beneath our very noses, George Bush and his administration are using time-tested tactics to close down an open society. It is time for us to be willing to think the unthinkable - as the author and political journalist Joe Conason, has put it, that it can happen here. And that we are further along than we realise.

Conason eloquently warned of the danger of American authoritarianism. I am arguing that we need also to look at the lessons of European and other kinds of fascism to understand the potential seriousness of the events we see unfolding in the US.

1. Invoke a terrifying internal and external enemy

After we were hit on September 11 2001, we were in a state of national shock. Less than six weeks later, on October 26 2001, the USA Patriot Act was passed by a Congress that had little chance to debate it; many said that they scarcely had time to read it. We were told we were now on a "war footing"; we were in a "global war" against a "global caliphate" intending to "wipe out civilisation". There have been other times of crisis in which the US accepted limits on civil liberties, such as during the civil war, when Lincoln declared martial law, and the second world war, when thousands of Japanese-American citizens were interned. But this situation, as Bruce Fein of the American Freedom Agenda notes, is unprecedented: all our other wars had an endpoint, so the pendulum was able to swing back toward freedom; this war is defined as open-ended in time and without national boundaries in space - the globe itself is the battlefield. "This time," Fein says, "there will be no defined e
nd."

Creating a terrifying threat - hydra-like, secretive, evil - is an old trick. It can, like Hitler's invocation of a communist threat to the nation's security, be based on actual events (one Wisconsin academic has faced calls for his dismissal because he noted, among other things, that the alleged communist arson, the Reichstag fire of February 1933, was swiftly followed in Nazi Germany by passage of the Enabling Act, which replaced constitutional law with an open-ended state of emergency). Or the terrifying threat can be based, like the National Socialist evocation of the "global conspiracy of world Jewry", on myth.

It is not that global Islamist terrorism is not a severe danger; of course it is. I am arguing rather that the language used to convey the nature of the threat is different in a country such as Spain - which has also suffered violent terrorist attacks - than it is in America. Spanish citizens know that they face a grave security threat; what we as American citizens believe is that we are potentially threatened with the end of civilisation as we know it. Of course, this makes us more willing to accept restrictions on our freedoms.

2. Create a gulag

Once you have got everyone scared, the next step is to create a prison system outside the rule of law (as Bush put it, he wanted the American detention centre at Guantánamo Bay to be situated in legal "outer space") - where torture takes place.

At first, the people who are sent there are seen by citizens as outsiders: troublemakers, spies, "enemies of the people" or "criminals". Initially, citizens tend to support the secret prison system; it makes them feel safer and they do not identify with the prisoners. But soon enough, civil society leaders - opposition members, labour activists, clergy and journalists - are arrested and sent there as well.

This process took place in fascist shifts or anti-democracy crackdowns ranging from Italy and Germany in the 1920s and 1930s to the Latin American coups of the 1970s and beyond. It is standard practice for closing down an open society or crushing a pro-democracy uprising.

With its jails in Iraq and Afghanistan, and, of course, Guantánamo in Cuba, where detainees are abused, and kept indefinitely without trial and without access to the due process of the law, America certainly has its gulag now. Bush and his allies in Congress recently announced they would issue no information about the secret CIA "black site" prisons throughout the world, which are used to incarcerate people who have been seized off the street.

Gulags in history tend to metastasise, becoming ever larger and more secretive, ever more deadly and formalised. We know from first-hand accounts, photographs, videos and government documents that people, innocent and guilty, have been tortured in the US-run prisons we are aware of and those we can't investigate adequately.

But Americans still assume this system and detainee abuses involve only scary brown people with whom they don't generally identify. It was brave of the conservative pundit William Safire to quote the anti-Nazi pastor Martin Niemöller, who had been seized as a political prisoner: "First they came for the Jews." Most Americans don't understand yet that the destruction of the rule of law at Guantánamo set a dangerous precedent for them, too.

By the way, the establishment of military tribunals that deny prisoners due process tends to come early on in a fascist shift. Mussolini and Stalin set up such tribunals. On April 24 1934, the Nazis, too, set up the People's Court, which also bypassed the judicial system: prisoners were held indefinitely, often in isolation, and tortured, without being charged with offences, and were subjected to show trials. Eventually, the Special Courts became a parallel system that put pressure on the regular courts to abandon the rule of law in favour of Nazi ideology when making decisions.

3. Develop a thug caste

When leaders who seek what I call a "fascist shift" want to close down an open society, they send paramilitary groups of scary young men out to terrorise citizens. The Blackshirts roamed the Italian countryside beating up communists; the Brownshirts staged violent rallies throughout Germany. This paramilitary force is especially important in a democracy: you need citizens to fear thug violence and so you need thugs who are free from prosecution.

The years following 9/11 have proved a bonanza for America's security contractors, with the Bush administration outsourcing areas of work that traditionally fell to the US military. In the process, contracts worth hundreds of millions of dollars have been issued for security work by mercenaries at home and abroad. In Iraq, some of these contract operatives have been accused of involvement in torturing prisoners, harassing journalists and firing on Iraqi civilians. Under Order 17, issued to regulate contractors in Iraq by the one-time US administrator in Baghdad, Paul Bremer, these contractors are immune from prosecution

Yes, but that is in Iraq, you could argue; however, after Hurricane Katrina, the Department of Homeland Security hired and deployed hundreds of armed private security guards in New Orleans. The investigative journalist Jeremy Scahill interviewed one unnamed guard who reported having fired on unarmed civilians in the city. It was a natural disaster that underlay that episode - but the administration's endless war on terror means ongoing scope for what are in effect privately contracted armies to take on crisis and emergency management at home in US cities.

Thugs in America? Groups of angry young Republican men, dressed in identical shirts and trousers, menaced poll workers counting the votes in Florida in 2000. If you are reading history, you can imagine that there can be a need for "public order" on the next election day. Say there are protests, or a threat, on the day of an election; history would not rule out the presence of a private security firm at a polling station "to restore public order".

4. Set up an internal surveillance system

In Mussolini's Italy, in Nazi Germany, in communist East Germany, in communist China - in every closed society - secret police spy on ordinary people and encourage neighbours to spy on neighbours. The Stasi needed to keep only a minority of East Germans under surveillance to convince a majority that they themselves were being watched.

In 2005 and 2006, when James Risen and Eric Lichtblau wrote in the New York Times about a secret state programme to wiretap citizens' phones, read their emails and follow international financial transactions, it became clear to ordinary Americans that they, too, could be under state scrutiny.

In closed societies, this surveillance is cast as being about "national security"; the true function is to keep citizens docile and inhibit their activism and dissent.

5. Harass citizens' groups

The fifth thing you do is related to step four - you infiltrate and harass citizens' groups. It can be trivial: a church in Pasadena, whose minister preached that Jesus was in favour of peace, found itself being investigated by the Internal Revenue Service, while churches that got Republicans out to vote, which is equally illegal under US tax law, have been left alone.

Other harassment is more serious: the American Civil Liberties Union reports that thousands of ordinary American anti-war, environmental and other groups have been infiltrated by agents: a secret Pentagon database includes more than four dozen peaceful anti-war meetings, rallies or marches by American citizens in its category of 1,500 "suspicious incidents". The equally secret Counterintelligence Field Activity (Cifa) agency of the Department of Defense has been gathering information about domestic organisations engaged in peaceful political activities: Cifa is supposed to track "potential terrorist threats" as it watches ordinary US citizen activists. A little-noticed new law has redefined activism such as animal rights protests as "terrorism". So the definition of "terrorist" slowly expands to include the opposition.

6. Engage in arbitrary detention and release

This scares people. It is a kind of cat-and-mouse game. Nicholas D Kristof and Sheryl WuDunn, the investigative reporters who wrote China Wakes: the Struggle for the Soul of a Rising Power, describe pro-democracy activists in China, such as Wei Jingsheng, being arrested and released many times. In a closing or closed society there is a "list" of dissidents and opposition leaders: you are targeted in this way once you are on the list, and it is hard to get off the list.

In 2004, America's Transportation Security Administration confirmed that it had a list of passengers who were targeted for security searches or worse if they tried to fly. People who have found themselves on the list? Two middle-aged women peace activists in San Francisco; liberal Senator Edward Kennedy; a member of Venezuela's government - after Venezuela's president had criticised Bush; and thousands of ordinary US citizens.

Professor Walter F Murphy is emeritus of Princeton University; he is one of the foremost constitutional scholars in the nation and author of the classic Constitutional Democracy. Murphy is also a decorated former marine, and he is not even especially politically liberal. But on March 1 this year, he was denied a boarding pass at Newark, "because I was on the Terrorist Watch list".

"Have you been in any peace marches? We ban a lot of people from flying because of that," asked the airline employee.

"I explained," said Murphy, "that I had not so marched but had, in September 2006, given a lecture at Princeton, televised and put on the web, highly critical of George Bush for his many violations of the constitution."

"That'll do it," the man said.

Anti-war marcher? Potential terrorist. Support the constitution? Potential terrorist. History shows that the categories of "enemy of the people" tend to expand ever deeper into civil life.

James Yee, a US citizen, was the Muslim chaplain at Guantánamo who was accused of mishandling classified documents. He was harassed by the US military before the charges against him were dropped. Yee has been detained and released several times. He is still of interest.

Brandon Mayfield, a US citizen and lawyer in Oregon, was mistakenly identified as a possible terrorist. His house was secretly broken into and his computer seized. Though he is innocent of the accusation against him, he is still on the list.

It is a standard practice of fascist societies that once you are on the list, you can't get off.

7. Target key individuals

Threaten civil servants, artists and academics with job loss if they don't toe the line. Mussolini went after the rectors of state universities who did not conform to the fascist line; so did Joseph Goebbels, who purged academics who were not pro-Nazi; so did Chile's Augusto Pinochet; so does the Chinese communist Politburo in punishing pro-democracy students and professors.

Academe is a tinderbox of activism, so those seeking a fascist shift punish academics and students with professional loss if they do not "coordinate", in Goebbels' term, ideologically. Since civil servants are the sector of society most vulnerable to being fired by a given regime, they are also a group that fascists typically "coordinate" early on: the Reich Law for the Re-establishment of a Professional Civil Service was passed on April 7 1933.

Bush supporters in state legislatures in several states put pressure on regents at state universities to penalise or fire academics who have been critical of the administration. As for civil servants, the Bush administration has derailed the career of one military lawyer who spoke up for fair trials for detainees, while an administration official publicly intimidated the law firms that represent detainees pro bono by threatening to call for their major corporate clients to boycott them.

Elsewhere, a CIA contract worker who said in a closed blog that "waterboarding is torture" was stripped of the security clearance she needed in order to do her job.

Most recently, the administration purged eight US attorneys for what looks like insufficient political loyalty. When Goebbels purged the civil service in April 1933, attorneys were "coordinated" too, a step that eased the way of the increasingly brutal laws to follow.

8. Control the press

Italy in the 1920s, Germany in the 30s, East Germany in the 50s, Czechoslovakia in the 60s, the Latin American dictatorships in the 70s, China in the 80s and 90s - all dictatorships and would-be dictators target newspapers and journalists. They threaten and harass them in more open societies that they are seeking to close, and they arrest them and worse in societies that have been closed already.

The Committee to Protect Journalists says arrests of US journalists are at an all-time high: Josh Wolf (no relation), a blogger in San Francisco, has been put in jail for a year for refusing to turn over video of an anti-war demonstration; Homeland Security brought a criminal complaint against reporter Greg Palast, claiming he threatened "critical infrastructure" when he and a TV producer were filming victims of Hurricane Katrina in Louisiana. Palast had written a bestseller critical of the Bush administration.

Other reporters and writers have been punished in other ways. Joseph C Wilson accused Bush, in a New York Times op-ed, of leading the country to war on the basis of a false charge that Saddam Hussein had acquired yellowcake uranium in Niger. His wife, Valerie Plame, was outed as a CIA spy - a form of retaliation that ended her career.

Prosecution and job loss are nothing, though, compared with how the US is treating journalists seeking to cover the conflict in Iraq in an unbiased way. The Committee to Protect Journalists has documented multiple accounts of the US military in Iraq firing upon or threatening to fire upon unembedded (meaning independent) reporters and camera operators from organisations ranging from al-Jazeera to the BBC. While westerners may question the accounts by al-Jazeera, they should pay attention to the accounts of reporters such as the BBC's Kate Adie. In some cases reporters have been wounded or killed, including ITN's Terry Lloyd in 2003. Both CBS and the Associated Press in Iraq had staff members seized by the US military and taken to violent prisons; the news organisations were unable to see the evidence against their staffers.

Over time in closing societies, real news is supplanted by fake news and false documents. Pinochet showed Chilean citizens falsified documents to back up his claim that terrorists had been about to attack the nation. The yellowcake charge, too, was based on forged papers.

You won't have a shutdown of news in modern America - it is not possible. But you can have, as Frank Rich and Sidney Blumenthal have pointed out, a steady stream of lies polluting the news well. What you already have is a White House directing a stream of false information that is so relentless that it is increasingly hard to sort out truth from untruth. In a fascist system, it's not the lies that count but the muddying. When citizens can't tell real news from fake, they give up their demands for accountability bit by bit.

9. Dissent equals treason

Cast dissent as "treason" and criticism as "espionage'. Every closing society does this, just as it elaborates laws that increasingly criminalise certain kinds of speech and expand the definition of "spy" and "traitor". When Bill Keller, the publisher of the New York Times, ran the Lichtblau/Risen stories, Bush called the Times' leaking of classified information "disgraceful", while Republicans in Congress called for Keller to be charged with treason, and rightwing commentators and news outlets kept up the "treason" drumbeat. Some commentators, as Conason noted, reminded readers smugly that one penalty for violating the Espionage Act is execution.

Conason is right to note how serious a threat that attack represented. It is also important to recall that the 1938 Moscow show trial accused the editor of Izvestia, Nikolai Bukharin, of treason; Bukharin was, in fact, executed. And it is important to remind Americans that when the 1917 Espionage Act was last widely invoked, during the infamous 1919 Palmer Raids, leftist activists were arrested without warrants in sweeping roundups, kept in jail for up to five months, and "beaten, starved, suffocated, tortured and threatened with death", according to the historian Myra MacPherson. After that, dissent was muted in America for a decade.

In Stalin's Soviet Union, dissidents were "enemies of the people". National Socialists called those who supported Weimar democracy "November traitors".

And here is where the circle closes: most Americans do not realise that since September of last year - when Congress wrongly, foolishly, passed the Military Commissions Act of 2006 - the president has the power to call any US citizen an "enemy combatant". He has the power to define what "enemy combatant" means. The president can also delegate to anyone he chooses in the executive branch the right to define "enemy combatant" any way he or she wants and then seize Americans accordingly.

Even if you or I are American citizens, even if we turn out to be completely innocent of what he has accused us of doing, he has the power to have us seized as we are changing planes at Newark tomorrow, or have us taken with a knock on the door; ship you or me to a navy brig; and keep you or me in isolation, possibly for months, while awaiting trial. (Prolonged isolation, as psychiatrists know, triggers psychosis in otherwise mentally healthy prisoners. That is why Stalin's gulag had an isolation cell, like Guantánamo's, in every satellite prison. Camp 6, the newest, most brutal facility at Guantánamo, is all isolation cells.)

We US citizens will get a trial eventually - for now. But legal rights activists at the Center for Constitutional Rights say that the Bush administration is trying increasingly aggressively to find ways to get around giving even US citizens fair trials. "Enemy combatant" is a status offence - it is not even something you have to have done. "We have absolutely moved over into a preventive detention model - you look like you could do something bad, you might do something bad, so we're going to hold you," says a spokeswoman of the CCR.

Most Americans surely do not get this yet. No wonder: it is hard to believe, even though it is true. In every closing society, at a certain point there are some high-profile arrests - usually of opposition leaders, clergy and journalists. Then everything goes quiet. After those arrests, there are still newspapers, courts, TV and radio, and the facades of a civil society. There just isn't real dissent. There just isn't freedom. If you look at history, just before those arrests is where we are now.

10. Suspend the rule of law

The John Warner Defense Authorization Act of 2007 gave the president new powers over the national guard. This means that in a national emergency - which the president now has enhanced powers to declare - he can send Michigan's militia to enforce a state of emergency that he has declared in Oregon, over the objections of the state's governor and its citizens.

Even as Americans were focused on Britney Spears's meltdown and the question of who fathered Anna Nicole's baby, the New York Times editorialised about this shift: "A disturbing recent phenomenon in Washington is that laws that strike to the heart of American democracy have been passed in the dead of night ... Beyond actual insurrection, the president may now use military troops as a domestic police force in response to a natural disaster, a disease outbreak, terrorist attack or any 'other condition'."

Critics see this as a clear violation of the Posse Comitatus Act - which was meant to restrain the federal government from using the military for domestic law enforcement. The Democratic senator Patrick Leahy says the bill encourages a president to declare federal martial law. It also violates the very reason the founders set up our system of government as they did: having seen citizens bullied by a monarch's soldiers, the founders were terrified of exactly this kind of concentration of militias' power over American people in the hands of an oppressive executive or faction.

Of course, the United States is not vulnerable to the violent, total closing-down of the system that followed Mussolini's march on Rome or Hitler's roundup of political prisoners. Our democratic habits are too resilient, and our military and judiciary too independent, for any kind of scenario like that.

Rather, as other critics are noting, our experiment in democracy could be closed down by a process of erosion.

It is a mistake to think that early in a fascist shift you see the profile of barbed wire against the sky. In the early days, things look normal on the surface; peasants were celebrating harvest festivals in Calabria in 1922; people were shopping and going to the movies in Berlin in 1931. Early on, as WH Auden put it, the horror is always elsewhere - while someone is being tortured, children are skating, ships are sailing: "dogs go on with their doggy life ... How everything turns away/ Quite leisurely from the disaster."

As Americans turn away quite leisurely, keeping tuned to internet shopping and American Idol, the foundations of democracy are being fatally corroded. Something has changed profoundly that weakens us unprecedentedly: our democratic traditions, independent judiciary and free press do their work today in a context in which we are "at war" in a "long war" - a war without end, on a battlefield described as the globe, in a context that gives the president - without US citizens realising it yet - the power over US citizens of freedom or long solitary incarceration, on his say-so alone.

That means a hollowness has been expanding under the foundation of all these still- free-looking institutions - and this foundation can give way under certain kinds of pressure. To prevent such an outcome, we have to think about the "what ifs".

What if, in a year and a half, there is another attack - say, God forbid, a dirty bomb? The executive can declare a state of emergency. History shows that any leader, of any party, will be tempted to maintain emergency powers after the crisis has passed. With the gutting of traditional checks and balances, we are no less endangered by a President Hillary than by a President Giuliani - because any executive will be tempted to enforce his or her will through edict rather than the arduous, uncertain process of democratic negotiation and compromise.

What if the publisher of a major US newspaper were charged with treason or espionage, as a rightwing effort seemed to threaten Keller with last year? What if he or she got 10 years in jail? What would the newspapers look like the next day? Judging from history, they would not cease publishing; but they would suddenly be very polite.

Right now, only a handful of patriots are trying to hold back the tide of tyranny for the rest of us - staff at the Center for Constitutional Rights, who faced death threats for representing the detainees yet persisted all the way to the Supreme Court; activists at the American Civil Liberties Union; and prominent conservatives trying to roll back the corrosive new laws, under the banner of a new group called the American Freedom Agenda. This small, disparate collection of people needs everybody's help, including that of Europeans and others internationally who are willing to put pressure on the administration because they can see what a US unrestrained by real democracy at home can mean for the rest of the world.

We need to look at history and face the "what ifs". For if we keep going down this road, the "end of America" could come for each of us in a different way, at a different moment; each of us might have a different moment when we feel forced to look back and think: that is how it was before - and this is the way it is now.

"The accumulation of all powers, legislative, executive, and judiciary, in the same hands ... is the definition of tyranny," wrote James Madison. We still have the choice to stop going down this road; we can stand our ground and fight for our nation, and take up the banner the founders asked us to carry.

Cartas do Rio de Janeiro na Biblioteca da Ajuda




Edward Hopper - o pintor da melancolia urbana







PENSAMENTO DO DIA

" O sábio, assim como não procura os alimentos mais abundantes e sim os melhores para o seu corpo, também em relação ao tempo aprecia não o mais longo, mas o mais doce. "

- Epicuro

O milésimo

No passado dia 16 de Junho, em Windsor, Guilherme de Gales tornou-se o milésimo cavaleiro da Ordem da Jarreteira desde a criação desta em 1348 por Eduardo III de Inglaterra, seu distante antepassado e esperemos antecessor.

ACABEI DE LER


Les Juifs, le Monde et l'Argent- Histoire économique du peuple juif , é como desde logo se retira do subtítulo uma história económica do povo judeu, desde os tempos bíblicos até
aos dias de hoje. Embora não seja grande admirador do autor, Jacques Attali, tenho que reconhecer o enorme trabalho de investigação que conduziu a esta síntese do ocorrido nos últimos milhares de anos com este povo desde sempre associado à finança, para o bem e para o mal. Inevitavelmente, é também a história das grandes famílias judias que ajudaram a moldar o nosso sistema capitalista, na Europa ( sobretudo os Rothschild e as famílias com que se consorciaram - Goldschmidt, Bamberger, Montefiore, Cohen), e na América ( os tão conhecidos ainda hoje Warburg, Kuhn Loeb, Lehman, Guggenheim, Seligman, Goldman Sachs, Lazard, Salomon ) .

Um pressentimento

" The innocent and the beautiful have no enemy but time. "

- William Butler Yeats


É a primeira vez que escrevo sobre Madeleine McCann, e provavelmente a ela não voltarei, a menos que por boas razões. Foi por estes dias revelado que o relatório final da PJ, que servirá de base de actuação ao MP , é inconclusivo, ou seja não permite avançar pela tese do homicídio, sustentada por parte dos investigadores, alguma opinião pública e alguns criminalistas, nem pela do rapto, como sustenta a família e outra parte da opinião pública.
E, no entanto, foi um caso em que foram empenhados todos os meios disponíveis, para além até do que é habitual em casos semelhantes.
Quanto a mim, apenas tenho um pressentimento. O pressentimento de que esta criança está há muito morta.

70 anos dos comics: A Golden Age

"Action Comics" #1, Junho de 1938


A Banda Desenhada nos Estados Unidos tem sido classificada em várias "Eras": a mais emblemática, que se considera a génese do género, foi a Golden Age, que viu a introdução de personagens que ainda hoje lideram as tabelas de preferência do público (e a rendibilidade do meio, seja sob a forma de livros, seja sobre as suas adaptações ao cinema ou outras formas de arte).

A Golden Age, segundo a maior parte dos estudiosos, nasce com a publicação pela DC Comics da primeira revista "Action Comics", a 14 de Junho de 1938: nesta data, nasce para o mundo o Super-Homem, produto da imaginação de Jerry Siegel e Joe Schuster, que virá a dominar o panteão de personagens da indústria nos 70 anos seguintes.

Como curiosidade, a génese data de 1933, com uma história de ambos os autores chamada "Reign of the Super-Man". Demoraram cinco anos para conseguir um editor. Muitos dos elementos da mitologia provêm do cinema: os títulos são inspirados pelos cartazes de King-Kong de 1993; Shuster said in 1983. Muitas das referências foram identificadas por Joe Schuster em entrevista: "Jerry created all the names. We were great movie fans, and were inspired a lot by the actors and actresses we saw. As for Clark Kent, he combined the names of Clark Gable and Kent Taylor. And Metropolis, the city in which Superman operated, came from the Fritz Lang movie, which we both loved". Como nota mercantilista, os autores venderam os direitos ao personagem por $130 em 1938; as polémicas e processos sucederam-se, tendo os autores recebido uma pensão anual de $20.000 em 1975 pela Warner, ao ser tornado público que viviam na miséria. Existem até hoje disputas legais sobre os direitos (já com os herdeiros, ambos os autores morreram na década de 90).

No encalce de Super-Homem, a DC viu nascer Batman (Maio de 1939, na revista "Detective Comics"), Robin (1940), Flash (1940), Green Lantern (Lanterna Verde, 1940), Wonder Woman (Mulher Maravilha, 1941) ou Aquaman (1941). Lançados e reinventados ao longo dos anos, continuam a ser cabeças de cartaz do editor.

Em 1939, nasce a Timely Comics (o primeiro título data de Outubro de 1939, chamado "Marvel Comics"), que se transformará na "Casa das Ideias" sob o nome do primeiro livro: o seu leque inicial inclui o Capitão América, o Tocha Humana e Namor. Em Fevereiro de 1940, a Fawcett Comics lança o Capitão Marvel (Shazam), que nos anos 40 batia as vendas dos títulos de Super-Homem; mais tarde virá a integrar o panteão da DC.

Investigação por PhDs nos EUA e publicada no "Overstreet Guide" de 2008 sugere alternativamente 1932, por ser a data em que a Standard Oil introduz banda desenhada em livros para promover a venda de combustível, sendo rapidamente imitada pela Gulf Oil -- as petrolíferas, patronas da arte... - ou 1929, data da primeira publicação de "Funnies", livro de "quadradinhos" com material original. Outra data sugerida é 1933, por ser a introdução do formato que passou a ser tradicional dos "comics".

O fim da Golden Age marca-se em torno a 1950 - com vendas em declínio, a Timely Comics cancela os seus 3 principais títulos; A DC termina as suas aventuras da JSA em "All-Star Comics" na mesma altura.

Fidelidade

Diz-me devagar coisa nenhuma, assim
como a só presença com que me perdoas
esta fidelidade ao meu destino.
Quanto assim não digas é por mim
que o dizes. E os destinos vivem-se
como outra vida. Ou como solidão.
E quem lá entra? E quem lá pode estar
mais o momento de estar só consigo?

Diz-me devagar coisa nenhuma:
o que à morte se diria, se ela ouvisse,
ou se diria aos mortos, se voltassem.

26/8/1956

Jorge de Sena
(publicado em Fidelidade, 1958, e incluído em Poesia II, 1988)

terça-feira, 1 de julho de 2008

PENSAMENTO DO DIA

Deus concede-nos o dom de viver.
Compete-nos a nós viver bem.

- Voltaire

Marlon Brando (3 de Abril de 1924 - 1 de Julho de 2004)


O que dizer sobre Marlon Brando?
  • O seu Stanley Kowalski, bruto de camisa rasgada, violento com Blanche Dubois, com o grito de "Steeellllaaa!" em "A Streetcar Named Desire / Um Eléctrico Chamado Desejo" (1951), é reconhecido como um marco de mudança no cinema: em carne viva.
  • O seu discurso nos degraus do Senado Romano, como Marco António, é a mais marcante recordação do vibrante "Julius Caesar" (1953) de Mankiewicz.
  • Em "The Wild One" (1953), deu corpo à rebeldia do jovem americano, antes de Jimmy Dean com os seus rebeldes sem causa.
  • Como estivador-pugilista Terry Malloy em "On the Waterfront / Há Lodo No Cais" (1954), ganhou o primeiro dos seus Óscares.
  • Cantou no musical "Guys and Dolls" (1955), tendo merecido tal elogio que Barbra Streisand o recuperou em gravação para um dueto no seu concerto ao vivo ("I'll Know").
  • Reinventou Fletcher Christian (impossível! o papel de 1935 fora imortalizado por Clark Gable) em "Mutiny on the Bounty / Revolta na Bounty" (1962).
  • Interpretou o muito esquecido e notável filme de John Huston com Liz Taylor, "Reflections in a Golden Eye" (1967).
  • Foi Don Vito Corleone, em "The Godfather / O Padrinho" (1972): "But, now you come to me and you say "Don Corleone, give me justice." But you don't ask with respect. You don't offer friendship. You don't even think to call me Godfather..." (outro Óscar, que famosamente recusou).
  • "Dançou" para Bertolucci um "Last Tango in Paris / Último Tango em Paris" (1973).
  • Foi Jor-El, o pai do Super-Homem, em "Superman - the Movie" (1978).
  • Em "Apocalypse Now" (1979), foi o temível Coronel Kurtz ("the horror... the horror...").
Ao todo, recebeu 8 nomeações da Academia, a última das quais em 1989. Ganhou BAFTA, Globos de Ouro, um Emmy e um Prémio de Actuação em Cannes.

A sua vida pessoal foi igualmente mesmerizante e turbulenta, com 11 filhos, 3 casamentos e múltiplas relações, incluindo alegadamente Marilyn Monroe, Christian Marquand, Cary Grant, Rita Moreno e Rock Hudson. A sua vida familiar nos últimos anos foi tão famosa quanto a sua obesidade, com o filho mais velho condenado pela morte do namorado da irmã Cheyenne e o subsequente suicídio desta (e a morte desse filho mais velho, Christian, no início de 2008 aos 49 anos de idade). Até 2004, manteve uma actividade de desenvolvimento científico alvo de várias patentes nos EUA.

As suas cinzas foram misturadas com as de dois amigos de juventude (um deles o actor Wally Cox) e espalhadas no Tahiti e no Vale da Morte, nos EUA.
"I saw you standing at the gates
When Marlon Brando passed away
You had that look upon your face..."
Advertising Space, Robbie Williams

Signo Caranguejo: Olivia de Havilland


Ms. Olivia de Havilland completa hoje 92 anos, tendo nascido em Tóquio e sendo de origem britânica. Galardoada com dois Óscares, é irmã da actriz Joan Fontaine (de "Rebecca"), com quem não fala desde 1975.

A sua grande projecção no imaginário colectivo surgiu com o papel de Melanie Hamilton no épico "Gone With the Wind / E Tudo o Vento Levou" (1939), como mulher de Ashley Wilkes (Leslie Howard) e cunhada de Scarlett O'Hara (Vivien Leigh). Este filme conquistou-lhe a primeira de cinco nomeações da Academia, tendo ganho duas vezes na categoria de Melhor Actriz. Os Óscares foram-lhe atribuídos por "To Each His Own" (1946) e "The Heiress / A Herdeira" (1949), onde contracenava com um Monty Clift caçador de fortunas.

Ficou igualmente célebre pelas suas múltiplas colaborações com Errol Flynn, desde "Captain Blood" (1935), a "The Adventures of Robin Hood / As Aventuras de Robin dos Bosques" (1937) "Dodge City" (1939), "The Santa Fe Trail" (1940) ou "They Died with Their Boots On" (1941).

O seu processo contra o "Studio system" nos anos 40 foi instrumental na mudança de filosofia de gestão de Hollywood, suportando o direito dos actores (a Screen Actor's Guild deve estar a rever as minutas, neste dia em que estão a finalizar um novo acordo com os estúdios...). Bette Davis foi uma amiga de longa data (com quem contracenou em "The Private Lives of Elizabeth and Essex" e "Hush, Hush, Sweet Charlotte"). Nos anos 80, fez várias aparições na televisão, em mini-séries e telefilmes como "North and South / Norte e Sul" ou "Anastasia: the mystery of Anna", que lhe valeu um Globo de Ouro em 1986.

Ms. Olivia de Havilland vive em Paris desde os anos 50.

Signo Caranguejo: Farley Granger


Farley Granger, o actor de "Strangers on a Train / O Desconhecido do Norte-Expresso" e "Rope / A Corda", ambos realizados por Alfred Hitchcock, completa hoje 83 anos.

A sua interpretação mais notável, na minha humilde opinião, é no filme "Senso", de Luchino Visconti, em que interpreta um oficial do exército austríaco de ocupação de Veneza, no momento da unificação italiana e da integração da Sereníssima. O filme (deveria ter escrito drama operático?) aborda o romance entre uma aristocrata casada, interpretada por Alida Valli, e o jovem oficial austríaco que a seduz. No decurso da paixão e das reacções subsequentes, entre abuso, incúria e despeito, contra um pano de fundo sfumatto da unificação italiana, os personagens são conduzidos a um desfecho violento.

O Beijo da Mulher Aranha


A Amazon anunciou hoje o lançamento exclusivo em DVD de "The Kiss of the Spider-Woman / O Beijo da Mulher-Aranha", de Hector Babenco, com William Hurt, Raul Julia e Sónia Braga. Lançado em 1985, foi o primeiro filme independente a conseguir nomeações da Academia para Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Argumento Adaptado (da obra de Manuel Puig) e Melhor Actor (para Hurt, que ganhou). A história gira em torno de conceitos de opressão, narrados por dois companheiros de cela num regime político de extrema direita.

Para além do filme, o DVD apresenta ainda um documentário, sob o título "Tangled Web: Making Kiss of the Spider Woman", cujo título Shakespeare-iano é no mínimo inspirador de curiosidade.
Disponível a partir de 22 de Julho.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Saudades - ainda!

Será por ser fim de Junho? Todos com saudades! O que as noites de São Pedro fazem (a alguns...)

Saudades

Saudades! Sim... Talvez... e porque não?...

Se o sonho foi tão alto e forte
Que pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quê?... Ah! como é vão!

Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão!

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar,
Mais decididamente me lembrar de ti!

E quem dera que fosse sempre assim:

Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!

Florbela Espanca

[Livro de Sóror Saudade ©1925]

Crónicas do interior

Para M.

"Ele há tanta mulher! mas porque fantasia
Entre tantas, só uma a nossa simpatia
Distingue, escolhe e quer!
” [ ...]

Marcelino Mesquita, Leonor Teles, estreia 1879 © 1893
[Porto, Livraria civilização Editora, 1983, p. 54]

Saudade

A saudade corroi se não corrompe
o tecido do tempo
que passado o sonho desvirtua.
A saudade a rejeito se acalento
memórias e destino.
É o por vir que espero uma manhã
de sol primeira e nua.

João Mattos e Silva
Memória(s), Átrio, 1987

Crónicas de Clarice - 3

SAUDADE ( 27 de Maio de 1968 )


Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco : quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.


Clarice Lispector, A DESCOBERTA DO MUNDO , Nova Fronteira, 1984

1670 - HENRIETTE ANNE D'ANGLETERRE


" Ô nuit désastreuse, ô nuit effroyable oú retentit tout à coup comme un éclat de tonnerre cette étonnante nouvelle : Madame se meurt, Madame est morte ! "
- Bossuet, Oração fúnebre para Madame la Duchesse d' Orléans
Na madrugada do dia 30 de Junho de 1670 morreu, após nove horas de agonia, Henriette Anne d 'Angleterre, mais conhecida na História como Madame Henriette .
Nascida em 1644, esta princesa inglesa, filha de Carlos I, foi criada em França devido à guerra civil inglesa que custou ao seu pai o trono e a vida.
Casada com Philippe, Duque d'Orléans, Monsieur , irmã de Carlos II de Inglaterra e cunhada de Luís XIV, foi uma figura influente nas cortes francesa e inglesa .
A sua morte súbita, que causou escândalo nos dois países, ainda hoje está envolta em polémica.
Envenenamento ( e houve quem apontasse o dedo ao seu marido ou ao amante deste, o cavaleiro de Lorena) , peritonite aguda ou uma consequência da porfíria, doença hereditária dos Stuarts, são algumas das teorias avançadas ao longo do tempo.
Do seu casamento com Philippe d'Orléans nasceram duas filhas: Maria Luísa de Espanha e Ana da Sardenha.

domingo, 29 de junho de 2008

HAMBURGO - A Bela do Norte


Hamburgo, cidade e Estado Federal da Alemanha, é sinónimo de cosmopolitismo e de abertura. Dada a sua localização geográfica, foi, ao longo de toda a sua história, ponto de chegada e de partida. Hamburgo – a porta para o mundo (das Tor zur Welt).

Situada nas margens do Elbe e Álster, constitui o maior porto marítimo da Alemanha, o segundo maior na Europa e o terceiro a nível mundial, apesar de o Elbe desaguar no Mar do Norte a uma distância de 110 km. Com cerca de 1,7 milhões de habitantes, é a segunda maior cidade alemã.

Já no século XIII, foi uma das primeiras cidades a integrar a liga hanseática, esta célebre aliança comercial e política que, no seu auge nos finais do século XV, chegou a contar 64 cidades no norte da Europa (numa das suas recentes edições, a National Geographic considerou a Hansa como primeiro espaço económico intracomunitário). Em conjunto com Bremen e Lübeck, Hamburgo tornou-se num dos centros principais desta confederação que protegia o livre comércio e defendia os foros e privilégios das cidades hanseáticas contra os principados vizinhos.

Durante o século XVI, holandeses protestantes bem como portugueses, maioritariamente judeus, e mais tarde aristocratas franceses, refugiavam-se em Hamburgo que lhes prometia bem-estar económico e, sobretudo, liberdade de expressão da sua crença. As vantagens de uma política tolerante eram naturalmente mútuas, a cidade beneficiava das relações comerciais e dos conhecimentos técnicos de que dispunham, em particular, os holandeses. Assim, as várias comunidades imigrantes passavam a contribuir significativamente para a ascensão de Hamburgo como uma das principais metrópoles europeias.

Reflexo desta influência estrangeira é a própria arquitectura da cidade. A praça da câmara municipal e as arcadas junto do rio Álster, da autoria do arquitecto e urbanista Alexis de Chateauneuf durante a primeira metade do século XIX, recordam a praça de S. Marcos de Veneza. Nas margens do rio, parcialmente convertido em pequenos lagos, a traça urbanística destaca-se pela sóbria elegância dos edifícios já muito londrinos – um dos motivos que dão a Hamburgo o atributo de cidade mais britânica da Alemanha.

Claro, Hamburgo continua a ser conotado com o bairro de St. Pauli, cuja artéria principal, a Reeperbahn, foi, até há poucos anos, sinónimo de prostituição e degradação. Ultimamente, os bares in e um conjunto de teatros instalaram-se nesta zona “reabilitando” o bairro.

Que impressões restam de uma breve visita a esta cidade? Hamburgo não impressiona por monumentos históricos. Vários incêndios, entre eles o de 1842, devastaram o núcleo da cidade. Em Julho e Agosto de 1943, violentos bombardeamentos ingleses e americanos destruíram quase 80% da área urbana.

Hamburgo distingue-se pelo seu ambiente, ora elegante e internacional na reconstruída zona junto do Álster, ora diversificado através das muitas culturas presentes em toda a cidade. Hamburgo é a segunda maior cidade alemã, contudo, respira-se uma tranquilidade agradável, quase estranha aliás, nas zonas pedonais, nos canais e nas arcadas à volta da câmara.

A oferta cultural da cidade é notável. A ópera estatal e a Musikhalle apresentam uma programação riquíssima e recordam evidentemente o repertório de ilustres conterrâneos como Johannes Brahms ou Felix Mendelssohn Bartholdy. O teatro clássico e contemporâneo residem no Thalia-Theater e no Deutsches Schauspielhaus, dirigido nos anos 50 pelo célebre e único Gustaf Gründgens.

Tudo isto (e seguramente muito mais que ficou por descobrir) faz-nos gostar desta cidade à primeira vista. Hamburgo respira-se, a “Bela do Norte” vive-se.