Prosimetron

Prosimetron

sexta-feira, 26 de abril de 2024

quinta-feira, 25 de abril de 2024

Boa noite!

Hoje continuamos com os Boémia:


Censura em Itália: «O texto que a RAI censurou a Antonio Scurati»

O Público publicou ontem um texto que a RAI censurou a Antonio Scurati. «Autor da trilogia M foi informado de que a sua presença num magazine de sábado, para ler este texto sobre o 25 de Abril italiano (libertação do fascismo), fora cancelada “por razões editoriais”.»
Só nos faltava assistir a isto! Eis o texto de Antonio Scurati:
«Giacomo Matteotti foi morto por assassinos fascistas a 10 de Junho de 1924. «O texto que a RAI censurou a Antonio Scurati Cinco deles esperavam-no à porta de sua casa. Eram todos membros de esquadrões de Milão, profissionais da violência contratados pelos colaboradores mais próximos de Benito Mussolini. O Honorável Matteotti, secretário do Partido Socialista Unitário e a última pessoa no Parlamento que ainda se opunha abertamente à ditadura fascista, foi raptado no centro de Roma, em plena luz do dia. Lutou até ao fim, como tinha lutado toda a sua vida. Esfaquearam-no até à morte, depois desfiguraram-lhe o corpo. Dobraram-no em dois para o meterem numa sepultura, mal escavada com uma lima de ferreiro. 
«Mussolini foi imediatamente informado. Para além deste crime, foi culpado da infâmia de ter jurado à viúva de Matteotti que faria tudo o que estivesse ao seu alcance para lhe devolver o marido. Enquanto fazia esta promessa, o Duque do fascismo guardava na gaveta da sua secretária os documentos manchados de sangue da sua vítima. 
«No entanto, nesta nossa falsa Primavera, não estamos apenas a assinalar o assassínio político de Matteotti. Assinalamos também os massacres nazis-fascistas de 1944, perpetrados pelas SS alemãs com a cumplicidade e a colaboração dos fascistas italianos, aqueles que foram levados a cabo em Fosse Ardeatine, Sant'Anna di Stazzema e Marzabotto. Estes são apenas alguns dos locais onde os demoníacos aliados de Mussolini massacraram a sangue-frio milhares de civis italianos indefesos. Entre eles, centenas de crianças e até bebés. Muitos foram mesmo queimados vivos, alguns decapitados.
«Estes dois aniversários de luto concomitantes – a Primavera de 1924 e a Primavera de 1944 – proclamam que o fascismo foi, ao longo de toda a sua existência histórica e não apenas no fim ou ocasionalmente, um fenómeno irremediável de violência política sistemática caracterizada por assassinatos e massacres. Irão os herdeiros dessa história reconhecê-lo de uma vez por todas? Infelizmente, tudo leva a crer que não será esse o caso. O atual grupo dirigente pós-fascista, depois de ter vencido as eleições de outubro de 2022, poderia ter seguido um destes dois caminhos: repudiar o seu passado neofascista ou tentar reescrever a História. Sem dúvida, escolheu o segundo caminho. 
«Depois de ter evitado o tema durante a campanha eleitoral, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, quando obrigada a abordá-lo por ocasião dos aniversários históricos, manteve-se obstinadamente fiel à linha ideológica da sua cultura neofascista de origem: distanciou-se das brutalidades indefensáveis perpetradas pelo regime (a perseguição dos judeus) sem nunca repudiar a experiência fascista no seu conjunto. Culpou apenas os nazis pelos massacres levados a cabo com a colaboração dos fascistas italianos. E, finalmente, ignorou o papel fundamental da Resistência no renascimento da Itália (ao ponto de nunca mencionar a palavra "antifascismo" em 25 de Abril de 2023). 
«No momento em que vos falo, estamos mais uma vez na véspera do aniversário da libertação do fascismo-nazi. A palavra que a primeira-ministra se recusou a pronunciar continuará a tremer nos lábios agradecidos de todos os crentes sinceros na democracia, sejam eles de esquerda, de centro ou de direita. Enquanto essa palavra – antifascismo – não for pronunciada por aqueles que nos governam, o espectro do fascismo continuará a assombrar a casa da democracia italiana".»

Falta-me ler o vol. 3 da magnífica biografia que Antonio Scurati escreveu sobre Mussolini e que recomendo.



Para ptcorvo que me enviou este texto.

Marcadores de livros - 3004

Verso e  everso.

Verso e reverso.

Revolução

Como casa limpa 
Como chão varrido 
Como porta aberta 

Como puro início 
Como tempo novo 
Sem mancha nem vício 

Como a voz do mar 
Interior de um povo 

Como página em branco 
Onde o poema emerge 

Como arquitetura 
Do homem que ergue 
Sua habitação 

Sophia de Mello Breyner Andresen
27 de abril de 1974

Verso e reverso.

Versos e reversos.

Verso e reverso.

Verso e reverso.

Reverso e verso.

Verso e reverso.

Verso e reverso.

Reverso e verso.

Reverso e verso.


Verso e reverso.





Ver outros marcadores aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.



Um dia feliz para todos!

Viva o 25 de Abril! Para sempre!


«No decorrer de uma recente entrevista, longa e simpática, em que se falou dos tempos da resistência, houve um aspeto que muito intrigou o jovem operador de câmara. Os encontros. Aqueles tais encontros que tanto trabalho davam a preparar, em sítios previamente escolhidos, no final de percursos calculados ao milímetro, serviam afinal para quê? O que se fazia nesses tais encontros [...]? 
«É reconfortante, para mim, dar nota desta pergunta e assinalar o espanto do moço. Significa que ele vive num mundo para que nós contribuímos - mesmo em modestíssima escala, como foi o meu caso -, no qual práticas normais e inofensivas deixaram de estar proibidas e sancionadas, com risco de prisão.
«Por mais que resmunguemos e protestemos, por desagradáveis e condenáveis que sejam alguns traços do quotidiano de hoje, o facto é que ganhámos.
«Já não temos que nos levantar às seis da madrugada, deslocar-nos de táxi até certo ponto, mudar para um elétrico, depois para um autocarro, andar cem ou duzentos metros desconfiados até á esquina determinada para dar e receber informações, dar ou receber jornais [...].
«Em suma: atividades e práticas em absolutos correntes, abertas e normais, numa sociedade democrática, como aquela em que, felizmente, nos encontramos hoje.
«Sem termos de nos esconder de ninguém e sem que alguém nos peça (pesadas) contas.»
Mário de Carvalho - «Encontros». In: De maneira que é claro. Alfragide: Caminho, 2021, p. 154-155.

terça-feira, 23 de abril de 2024

É ou não é?

A RTP está agora a passar o programa É ou não é? sobre o 25 de Abril Vejam a legenda: 25 anos do 25 de Abril. Acho que estamos a comemorar os 50 anos. É não é?

Boa noite!


Livro(s) e marcador(es) - 133

Foto Maria.

Foto Cláudia.

«Entrei na sede da PIDE»...


«Entrei na sede da PIDE, horas depois só por dentro continuava a ser gente. Por fora, fiquei reduzido a uma cara fotografada de todos os ângulos lombrosianos, a umas mãos esborratadas que deixavam impressões identificadoras numa ficha, a um nome sem senhoria e sem título, a um monte de ossos que o arbítrio alheio fazia mover. 
«- Volta a cara... Espalma agora aqui a pata... Levanta-te...
«Conhecia já de nome, até bem demais, a casa, que uma legenda negra celebrava. Contavam-se por toda a parte horrores dos suplícios a que eram submetidas nos cubículos do sótão - os famigerados "moinhos" - as vítimas renitentes à confissão. Dias e noites a fio, de pé, sem dormir, ou, mal fechavam os olhos, acordadas a cachação pelos "macaquinhos", os guardas que a rendição frequente mantinha sempre em forma. Havia casos de alucinação por esgotamento [...].»
Miguel Torga - A criação do mundo. Lisboa: Círculo de Leitores, 2001, p. 398

Nas páginas seguintes deste livro, Torga conta a sua experiência na prisão.